terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O meu reino por uma árvore de natal!

Este ano pensava que não ia ter árvore de natal em casa. Primeiro, porque não vamos estar em casa em nenhum dos dias de festa (que cá são 24, 25 e 26). Segundo, porque a Teresa ainda não liga a isso. Terceiro, porque achava que era caro. A certa altura, em discussão com a cara metade, resolvemos que iriamos comprar uma árvore de natal. Pensei logo numa coisa pequenina. De cada vez que ia ao supermercado, dava uma olhadela nos preços das árvores de plástico e achava caríssimas. Até que certo dia, o Stas foi ajudar os avós a comprar a árvore deles. Pelo que percebi, cá a maioria das pessoas tem árvores verdadeiras em casa. Lá foram eles a um desses vendedores que se encontra por toda a parte nesta época do ano comprar a dita. Qual o meu espanto quando soube que tinham comprado uma com 2,50m por um preço baratíssimo! Caiu-me o queixo ao chão; nunca pensei que fossem tão baratas as árvores verdadeiras! Sempre tinha aquela ideia que as verdadeiras eram bastante mais caras que as de plástico, mas pelos vistos enganei-me. Em suma, passámos da ideia (minha) de comprar um "arbustrozinho" de plástico para comprar uma árvore verdadeira com pelo menos 2m.
Tendo decidido o que queriamos, partimos certo dia em busca da dita. Ora, esta tarefa resultou bem mais complicada do que pensei. Fomos a uns oito sítios diferentes. O problema era sempre: ou era muito cara, ou era feia. Não sei porquê, nunca me ocorreu que pudesse encontrar árvores feias. Algumas não tinham quase ramos em cima, outras estavam muito depenadas, outras eram exageradamente farfalhudas em baixo e despidas em cima, etc, etc. Para além disto, há dois tipos de árvore à escolha: jodła e świerk. A primeira tem a vantagem de aguentar muito tempo e por isso é mais cara; a segunda dizem que deita um cheiro bom, mas deixa cair uma espécie de caruma, o que faz com que se tenha de limpar o chão frequentemente (esta é mais barata). Nessa tarde estavam 4ºC e tinha chovido a potes na véspera. A maioria dos locais onde estavam os vendedores das árvores estava atolhada de lama e mal se conseguia lá entrar. Congelámos completamente e sujámos os sapatos todos. Mas conseguimos arranjar uma de que gostámos e por um bom preço. Da próxima vez, acho que vamos procurar com mais antecedência.
Aqui está a nossa árvore de natal, à chegada a casa, antes de ser armada:

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O que os bebés comem na Polónia

Tal como os adultos na Polónia têm as suas comidas tradicionais, os bebés também têm as suas próprias. Em geral, na Polónia, quando os bebés chegam à fase de comer outras coisas para além do leite, passam a comer de boiões. Quando fomos da última vez à pediatra, ela deu-nos uma brochura de uma marca de boiões com a indicação de como se devia alimentar o bebé. Pelo que percebi, aqui não há a sopinha caseira que se faz aí, à qual se vão acrescentando ingredientes. Quer dizer, haver há, mas está a tornar-se cada vez menos popular. De tal maneira que a pediatra nem sequer supôs que nós pudéssemos não querer alimentar a bebé só com boiões. Como não temos grande experiência nesta área, tive a felicidade de algumas pessoas de Portugal me ajudarem com indicações sobre como preparavam as comidas dos seus bebés. Os boiões de facto são muito práticos e têm uma variedade enorme de sabores. Mas - lá está - não há nada como uma bela sopinha caseira (para além de que é mais barato)! E a Teresa, para já, tem gostado.
Para além disto, há também papas, como em qualquer parte do mundo. Tirando o facto de não haver cerelac (o que me deixa muito triste), predominam as papas de arroz. Há também papas de milho, mas ouvi dizer que são uma porcaria. Às papas de arroz juntam-se sabores: há papa de framboesa, papa de banana, etc. Mas o que achei mais original foi ver papa de... bróculos, de abóbora e de outros legumes! São da Nestlé e chamam-se algo como "Jardim do Ursinho". Ainda não sei se vamos comprar, mas parece-me que não. De qualquer maneira comprámos um boião com puré de bróculos, imagino que seja mais saboroso.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Mais ginástica!

Pela primeira vez depois da Teresa nascer, fui fazer ginástica. Achei que já era altura de voltar a exercitar o corpo. Até porque ser mãe existe uma certa resistência física que, de facto, me está a faltar. Noutro dia, por exemplo, dei uma corridinha a empurrar o carrinho do bebé na rua e quando parei achei que ia morrer. Ainda consigo aguentar bem com os 7kg da pequenota, mas tirando isso...
Decidi então inscrever-me num ginásio, numas aulas próprias para mães com bebés pequeninos. Para além de achar que era o indicado para mim (recuperação pós-parto, etc.), tinha a grande vantagem de não precisar de babysitter para a Teresa durante o tempo da aula.
Bem, eu já não fazia ginástica há muito tempo (sim, porque as aulas de preparação para o parto, ao contrário do que muitos pensaram, não eram de ginástica; simplesmente em algumas sessões tivemos 30min de exercícios). Então quando começámos a aula... acho que ainda nem tinham passado 10min e eu já não podia mais! Quer dizer, achava que não podia, porque depois ainda fiz mais uma série de exercícios, apesar de não tantas vezes como era suposto.
A aula começou com um aquecimento tipo step. Os bebés ficavam deitados numa mantinha no colchão e nós lá saltitávamos de um lado para o outro. Como é típico, nos primeiros minutos era a turma toda para a direita e eu para a esquerda, e vice-versa. Já quase no fim do aquecimento lá consegui acertar o passo com elas. A Teresa divertiu-se imenso com as minhas figuras; fartou-se de rir. Depois disto fizemos mais uns exercícios sozinhas e mais tarde é que pegámos nos bebés para ginasticarem connosco. É engraçado, este conceito de ginástica. Várias vezes, os bebés serviam de pesos para os exercícios. Só vos digo que não é tão fácil como parece! Passado um bocado, foi a vez dos bebés brincarem um pouco. Pusemo-los em cima das bolas de ginástica (que usámos para alguns exercícios), ora de barriga para baixo, ora de barriga para cima e rodávamos um pouco a bola em círculos. A Teresa adorou. Acho que para eles deve ser muito relaxante. Bem... pelo menos para alguns, porque ao meu lado estava uma bebé com sete meses que a mãe me disse que se farta de chorar de cada vez que a metem em cima da bola.
Ainda fizemos mais uns exercícios juntamente com os bebés, para nos matarmos mesmo até ao fim e depois lá terminámos. Quando já estávamos no carro para vir para casa é que a Teresa começou a chorar. Acho que queria mais aula para se continuar a rir das minhas figuras. Mas agora só para a semana.

Estas fotos foram tiradas ao calhas da internet; não faço a mínima ideia quem sejam estas pessoas.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Concorrência entre operadoras móveis

Há uns tempos que a operadora móvel polaca Play (uma operadora que surgiu há coisa de um ano e tal) iniciou uma campanha publicitária de ataque directo à concorrência. Devo dizer que pessoalmente nunca gostei dos anúncios da Play, são todos horríveis. Estes agora estéticamente não têm nada de especial. O que chama a atenção é o que aparece escrito. Diz a Play que ligar de um telemóvel Play para outras redes é mais barato do que as chamadas dentro dessa outra rede. Ou seja - e citando os cartazes deles - ligar de Play para um telemóvel Era é mais barato do que ligar de um Era para um Era. E o mesmo com as redes Orange e Plus. Não sei se isto é verdade, porque não verifiquei, mas irrita-me este tipo de publicidade, que investe em dizer mal dos concorrentes.
E qual é a resposta dos concorrentes? Vejamos um caso concreto.
Estou a pensar comprar um novo cartão de telemóvel da operadora Heyah - uma rede que pertence à Era. Eles têm agora uma promoção que posso ligar por um preço muito bom para todas as redes (fixa incluída) da Polónia e da União Europeia!! Ou seja, passo a telefonar para Portugal ao mesmo preço que para cá. Só que esta promoção tem uma particularidade muito especial... Paga-se apenas 44 grosze (cerca de 11 cêntimos) para todas as redes (como já disse), excepto para a Play... para a qual se pagam 79 grosze por minuto (cerca de 21 cêntimos). Esta é a resposta que a concorrência está a dar à Play. A Orange parece que também está a ir por este caminho. Assim a Play vai levando dos seus concorrentes, enquanto perde tempo a criticá-los.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Ciechanów

Na altura do feriado do 11 de Novembro, decidimos aproveitar a ponte para ir passear. Fomos até Ciechanów, uma cidade que fica a uns 100km a norte de Varsóvia. É uma cidade nada de especial, predominam os blocos de betão comunistas. Mas o que atrai muitos visitates àquelas bandas é o castelo dos Príncipes da Mazóvia. Este castelo foi construído no séc. XIV num pântano, para ser de difícil acesso. Tivémos pena que no dia em que lá fomos não se podia visitar o interior. Lemos duas lendas relativas ao castelo. A primeira, fala de um pagem do príncipe que se apaixonou pela princesa. Para o castigar, o príncipe mandou prendê-lo numa das torres do castelo durante um ano. Para o ajudar, a princesa levou-lhe ferramentas escondidas em comida e o pagem escavou um túnel para poder fugir. Ao que parece, o buraco na torre é visível ainda hoje. No entanto, nós não demos por ele. A segunda lenda fala de um castelão que tinha muitos ciúmes da sua esposa. Certa vez, ofereceu-lhe um anel muito caro. Porém, este anel desapareceu. O castelão decidiu assim dar-lhe outro. Quando o anel da castelã desapareceu pela terceira vez, o seu marido convenceu-se que ela teria um amante secreto e mandou matá-la. Algum tempo depois, uma criada do castelo descobriu num ninho de uma pega-rabuda (um pássaro que há muito por estes lados e que é conhecido por roubar coisas) os três anéis. Descobriu-se então a inocência da castelã, mas tarde demais.

Um prédio engraçado em Ciechanów:O museu do romantismo em Opinogóra (fica lá perto):

E, como já vem sendo normal nestes dias, o nosso passeio lá teve de terminar cedo, porque começou a escurecer. Que pena...

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Barracada...

...do jornal alemão Die Welt. Parece que o dito publicou na segunda-feira um artigo na sua edição online, no qual se referia ao "antigo campo de concentração polaco de Majdanek". Imediatamente saltou a tampa aos polacos, pois os campos de concentração que havia na Polónia eram todos alemães e não polacos. Dizem que os alemães queriam que eles fossem chamados de "campos de concentração nazis", mas os polacos insistem que são alemães e ponto final. A polémica foi imediata e o Die Welt alterou logo o texto da notícia e publicou uma nota no fim a pedir desculpa e a explicar a gaffe. O Ministério dos Negócios Estrangeiros polaco até começou a falar de processá-los, etc. Acho que na prática não vai acontecer nada, mas de qualquer maneira os polacos quiseram mostrar bem que nestas coisas é melhor não haver confusões. É a tal coisa, apesar de ter um nome derivado da vizinha vila de Oświęcim, Auschwitz para os polacos será sempre Auschwitz, pois é uma "invenção" alemã e não polaca.
De facto, há certas coisas na vida dos polacos que mais vale não tocar. Algumas feridas cicatrizam muito lentamente.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Um novo monumento em Varsóvia

Uma das coisas que sempre tive curiosidade em saber era exactamente onde tinha sido o Gueto de Varsóvia. Quer dizer, eu sabia mais ou menos em que zona era - até porque uma vez me disseram que as casas aí construídas estão ligeiramente mais altas do chão, por terem sido construídas sobre as ruínas do Gueto, e isso é visível. Mas queria saber com precisão. Comprámos há uns meses um livrito que tinha lá um mapa, mas nunca cheguei a fazer esse percurso para ver como é hoje.
Até que a cidade de Varsóvia teve uma boa ideia: colocou uma série de placas de bronze com um mapa do Gueto em zonas por onde passava o muro do dito. Uma forma de assinalar as suas fronteiras. Segundo dizem, podemos ver estas placas nas ruas Złota, Żelazna, Grzybowska, Solidarność e Żytnia, entre outras. Nós fomos em busca da placa na rua Świętojerska e, de facto, lá estava ela, toda janota à nossa espera para uma sessão de fotografias.



















Diz a inscrição:
«Por decisão das autoridades ocupantes alemãs, o gueto foi isolado do resto da cidade no dia 16 de Novembro de 1940. A área do gueto, rodeada por um muro, tinha inicialmente cerca de 307 hectares; posteriormente foi ampliada e a partir de Janeiro de 1942 dividiu-se no chamado pequeno e grande gueto. Foram enclausurados aqui cerca de 360 mil judeus de Varsóvia e cerca de 90 mil de outras localidades. Cerca de 100 mil pessoas morreram à fome. No verão de 1942, os alemães deportaram e assassinaram nas câmaras de gás de Treblinka cerca de 300 mil pessoas. No dia 19 de Abril de 1943 estalou uma insurreição; até meados de Maio insurgentes e civis morreram na luta e nas chamas do gueto sistematicamente incendiado; os outros foram assassinados pelos alemães em Novembro de 1943 nos campos de concentração de Majdanek, Poniatowa e Trawniki. Poucos sobreviveram.
À memoria daqueles que sofreram, lutaram, morreram. Cidade de Varsóvia, 2008
Pequeno fragmento do muro norte do gueto aqui preservado.»


E, para terminar, duas pequenas imagens das primeiras neves que cairam por aqui. Pena que não tirámos fotos no domingo. Isso sim, tinha sido giro. Caiu um nevão engraçado (que coincidiu com um momento em que tive de sair à rua...), era ver as criancinhas e pais todos aqui no parque infantil a descer as montanhinhas de trenó e a atirarem bolas de neve.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Recuando uns dias: o 11 de Novembro

Dia 11 de Novembro é feriado nacional na Polónia. Celebra-se a festa da independência. Independência esta reconquistada após a Iª Guerra Mundial - depois de mais de um século de Polónia dividida entre Rússia, Prússia e Áustria. O grande herói destes tempos é o marechal Piłsudzki (curiosidade: ao contrário do que muitos pensam, a rua Marszałkowska em Varsóvia não deve o seu nome a este marechal).
Na véspera deste feriado, fomos convidados para uma festa de anos algo patriótica. Em casa dos nossos amigos, em pleno coração da cidade, gerou-se um ambiente bem engraçado. A mesa da comida estava decorada com bandeirinhas polacas (pena que não tirei nenhuma foto). Mas o original desta festa foi que todos fomos convidados para irmos lá cantar cânticos patrióticos polacos! Tinhamos à nossa disposição cancioneiros com as letras das músicas e um amigo dos anfitriões dava o tom para ninguém se enganar. Foi um verdadeiro convívio patriótico! O mais curioso é que, no meio daquelas músicas todas, havia uma que eu conhecia, porque aprendi no curso na Universidade de Varsóvia!
Deixo aqui para quem quiser ouvir uma das várias músicas que cantaram na festa, chamada My Pierwsza Brygada (nós, a primeira brigada), que era onde estava o Piłsudzki (e o bisavô do Stas também, por sinal).

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Powązki

Falando ainda a propósito do dia de Todos-os-Santos, não posso deixar de referir o cemitério de Powązki. É o cemitério mais antigo de Varsóvia e penso que um dos mais bonitos (não conheço os outros todos, mas imagino que sim). Nele encontram-se sepultados vários polacos famosos, sejam actores, escritores, juristas, artistas plásticos, músicos, etc. Muitas das campas e jazigos que lá há datam do século XIX. No dia de Todos-os-Santos ira Powązki é suicídio. As ruas à volta deste cemitério são fechadas, nas redondezas vemos placas de sinalização a indicar parkings provisórios criados especialmente para aquela ocasião e o trânsito para lá chegar também não anima. A solução é mesmo ir de eléctrico. Tentei ir lá no dia 2 de Novembro, já que dia 1 não foi possível, mas desistimos. Acabámos por ir uma semana depois, apesar de já não ser a mesma coisa. No próprio dia de Todos-os-Santos em Powązki concentram-se alguns polacos famosos a fazerem um peditório para a conservação e restauro dos túmulos de pessoas, conhecidas ou não, que por já não terem família, se estão a degradar. Pelo que percebi, se no dia 1 nos cemitérios normais já há grande confusão, então naquele deve ser um autêntico circo.
O cemitério de Powązki está rodeado por um cemitério judaico, um protestante e um muçulmano (dos tártaros, com túmulos também de séculos passados). Lá dentro, temos uma parte central com sepulturas antigas, uma zona chamada Aleja Zasłużonych, que se traduz mais ou menos por Avenida (ou Passeio) dos Meritórios, onde há uma espécie de corredor com vários cofres onde estão os restos mortais desses meritórios. Mais uma vez, como agora escurece tão cedo, não conseguimos fazer a visita ao cemitério tal como queríamos. Aqui ficam algumas fotos de Powązki (da parte civil, porque parece que também há um lado militar):

Uma inscrição à porta do cemitério: Quando se apaga a memória humana, passam a falar as pedras. Do Cardeal Stefan Wyszyński, Primaz da Polónia.

A planta do cemitério.

Uma lápide com a inscrição: Aos soldados franceses que cairam na Polónia entre 1919-1921.





A igreja do cemitério. Duas fotos tiradas com tipo dois segundos de intervalo (só depois de tirar a segunda é que reparei que as luzes se acenderam!!










Breve resumo da história do cemitério:
Foi erguido (salvo seja) em 1790 numa propriedade cedida por um tal de Szymanowski. A igreja e catacumba foram construidas em 1792 de acordo com o projecto do arquitecto real Dominik Merlini. Foi ampliado 19 vezes. A sua ampliação terminou em 1971. Tem área de 43 hectares. A igreja foi reconstruida duas vezes: em 1847-1850 e 1890-1891. Durante a IIª Grande Guerra, a igreja e a catabumba foram destruídas, bem como muitos dos túmulos com significado histórico. Durante a ocupação alemã, o cemitério foi uma espécie de local de manobras do AK (o exército nacional clandestino, tipo resistência). Pelo cemitério conseguiam fazer passar alimentos para dentro do Gueto de Varsóvia. A igreja e a catabumba foram novamente construidas entre 1945 e 1976. No cemitério estão sepultados insurgentes e heróis polacos desde os tempos das partilhas da Polónia até à IIª Guerra. Num mausoléu estão cinzas de vítimas dos campos de concentração.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Varsóvia em Dia de Todos-os-Santos

Com algum atraso, venho aqui escrever sobre o dia de Todos-os-Santos na Polónia.
Como em muitas outras partes do mundo cristão, no dia de Todos-os-Santos vai-se ao cemitério. Apesar de em Portugal também haver esta tradição, penso que ela se extende principalmente ao meio rural. Nós, pelo menos, em Portugal, nunca fomos a nenhum cemitério no dia 1 de Novembro (e muitas das pessoas que conheço também não vão). Pois na Polónia este é o dia em que se vai ao cemitério. E quem não pode ir no dia 1, vai nos dias seguintes, durante a oitava da festa. No ano passado passei o dia de Todos-os-Santos que nem podia e não pus o pé fora de casa. Este ano pus os dois e lá fomos todos em direcção ao cemitério. À volta dele, o caos. Estacionamento tipo quem vai ao futebol e imensos comerciantes com as suas bancadas (ou não) a venderem velas funerárias de vários tipos, cores e feitios (e preços), arranjos florais próprios para campas, alguns bolinhos e até mesmo brinquedos! Bem, pelo menos vi um que vendia brinquedos, mas acho que era o único. No cemitério as campas estavam ornadas com flores e velas acesas. Um espectáculo algo engraçado. Dizem os que neste dia vão ao campo que os cemitérios das aldeias são dignos de se ver, de tão bem ornados que ficam. Parece que à noite, quando se passa por eles, vê-se uma "nuvem" de luz das velas que lá deixaram acesas.
E falando de velas acesas, os polacos deixam-nas não só nos cemitérios, mas em todos os locais que indiquem mortos, como por exemplo em locais onde houve acidentes de carro e em monumentos. Deixo aqui alguns exemplos:

Este é o monumento em memória das vítimas dos soviéticos durante a IIª Guerra Mundial. Fica perto da porta do antigo Gueto de Varsóvia. O monumento consiste num carril gigante, em que cada trave tem escrito um local (penso que talvez seja o local para onde os polacos foram deportados, mas não sei ao certo). No cimo, um vagão aberto cheio de cruzes. Não dá para ver bem na foto, mas estavam lá umas pessoas a colocar velas.

Aqui está a parte central do monumento (à qual fizeram tunning e puseram estas luzes lindas por baixo).

Placa identificativa do monumento com a data do início da agressão soviética: 17 de Setembro de 1939.

O monumento da Insurreição de Varsóvia.

O célebre local onde o Papa João Paulo II celebrava as suas Missas em Varsóvia e que tem também uma placa no chão alusiva ao funeral Cardeal Wyszyński, que me leva a crer que a Missa do funeral deve ter sido também ali (note-se a presença do Stas e da Teresa na foto).

Por fim, o monumento ao soldado desconhecido.

PS - Apesar de parecer que andámos a passear à noite por Varsóvia, devo esclarecer que na realidade eram entre 17h e 18h...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

O serviço nacional de saúde polaco

Algumas pessoas já me devem ter ouvido falar do serviço nacional de saúde polaco, normalmente elogiando-o. É verdade que estou muito contente com a pediatra da Teresa, com a forma como somos atendidos no centro de saúde, como nunca tenho de esperar em filas, etc. Pois bem, finalmente comecei a conhecer melhor certas realidades e, agora sim, venho queixar-me! Da última vez que fomos às vacinas, fiquei de marcar nova consulta para Dezembro. Quando fui marcar, disseram-me que ainda não tinham os mapas de Dezembro e pediram para telefonar na semana seguinte. E aqui começam os meus problemas.
A avó do Stas, que é médica, diz que no centro de saúde somos bem atendidos e fazemos tudo... quando lá estamos. Quando não estamos... não vale a pena. Antes de fazer esta marcação, tenho de fazer outra para outro médico do centro de saúde (noutra filial). Telefonei na 6ª feira. Responderam-me secamente que à 6ª o balcão das marcações não funciona. Achei muito estranho as marcações terem folgas, mas enfim. Telefonei 2ª à tarde. «O balcão das marcações não funciona na 2ª à tarde». Apre. Perguntei se na 3ª funcionava, disseram-me que sim. Telefonei 3ª, mas ninguém me atende. Descobri um número alternativo e liguei para lá. Disseram-me que não era ali e reencaminharam-me a chamada. Repeti pela enésima vez o meu discurso: «Bom dia, queria marcar uma consulta com x». Do outro lado respondem-me que aquelas marcações não se fazem ali, que ligue para outra filial. Fiquei furiosa, porque já me podiam ter dito isso das outras vezes que liguei. Mas não, claro, porque o balcão das marcações estava fechado (sou capaz de jurar que foi a mesma voz sempre a atender-me). Pedi o número dessa filial e deram-mo. Liguei para lá e respondem-me: «O balcão das marcações só funciona à tarde»... Ia tendo um colapso! Por fim desisti e pedi que fosse o Stas a ligar para lá, antes que eu mandasse um berro a alguém. Por sorte, ele conseguiu ser atendido. Mas a resposta? «Ligue a partir de dia 12». Haja paciência!...

sábado, 1 de novembro de 2008

Bruxas? Não, obrigada.

Ontem à tarde aconteceu-me uma situação inesperada. Estávamos muito bem em casa, numa boa conversa com as nossas amigas, quando alguém tocou à porta. Abri, mas ninguém subiu logo. Pensei que fosse engano, ou algo do estilo. Passado um bocado, tocam outra vez, mas cá em cima. Abro a porta e dou um salto! À minha frente estavam duas crianças, uma vestida de bruxa, outra com uma máscara horrorosa na cara. Tinham sacos nas mãos e disseram-me: "Cukierek albo psikus" (doces ou partida, mais ou menos isto). Olhei para elas com cara de parva e como não tinha nada em casa, disse-lhes isso mesmo e elas lá seguiram o seu caminho. Claro que não me fizeram partida nenhuma.
Digam o que disserem, acho o halloween uma grande treta. Mais uma daquelas americanices de que os polacos tanto gostam. Mesmo assim, por cá não existe nenhuma grande tradição de halloween. Para mim, acho o carnaval mil vezes mais interessante que o halloween. Os miúdos (e graúdos) mascaram-se, mandam água uns aos outros, fazem partidas, divertem-se à brava. Agora, brincar com bruxarias, feitiçaria, espiritismos e outros que tais, sinceramente, não acho que valha a pena. Prefiro que os meus filhos brinquem com coisas alegres e divertidas, porque quem brinca com o fogo queima-se. Posso parecer exagerada, mas de facto what goes around, comes around. Prefiro influências positivas.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Um simples frasco de mel

No sábado passado fomos às compras a um bazar, como lhes chamam os polacos, um mercado que me lembrava a feira do Carregal (só faltavam lá os pintos e frangos). Tinha montes de fruta e verduras com ar óptimo e mais baratas (algumas) que nos supermercados. Achei interessante ver lá bancadas com diferentes tipos de cogumelos. Há muita gente que costuma ir para os bosques apanhá-los. Só que é preciso conhecê-los bem, para não trazer para casa cogumelos venenosos. Já ouvi várias histórias sobre pessoas que foram apanhar cogumelos, umas engraçadas, outras nem por isso.
A certa altura, parámos junto de um senhor para lhe comprar umas pêras que tinham óptimo aspecto. Quando estávamos quase a ser atendidos, lembrei-me de pedir também mel, pois o senhor também o vendia. Depois de ter estado horrivelmente constipada em Lisboa e de ter ficado fã do leitinho com mel (que afinal não era mel, mas isso é uma longa história), pensei que se calhar seria bom ter mel em casa, para o caso de ser preciso. Neste momento, o Stas vira-se para mim e pergunta: "Que tipo de mel queres?". Eis que me dá um bloqueio. Na minha ignorância (talvez por nunca ter gostado de mel) jamais soube que existiam diferentes tipos de mel. Olho para o chão e vejo imensos frascos de mel que, afinal, eram diferentes uns dos outros! E agora? Sei lá eu que tipo de mel quero! Para mim é tudo a mesma coisa! Salvou-me um senhor que estava atrás de nós à espera de ser atendido e lá explicou que, se calhar, para o que queríamos era melhor um mel mais líquido e recomendou mel lipowy.
Depois de regressarmos, ouvi uma grande história sobre o mel. Diz então que na Polónia há uma grande tradição de apicultura, já muuuuuito antiga. Os apicultores instalam-se perto de certo tipo de vegetação e assim as abelhas vão produzindo diferentes tipo de mel. Parece que é a abelha-mestra que indica às outras que tipo de pólen elas têm de recolher. Agora, como é que a abelha-mestra se entende com o apicultor, isso já não sei. O que sei é que existem vários tipos de mel, de acordo com os diferentes tipos de pólen. O mel lipowy, que nós comprámos, é mel de tília. Vi que também existe mel de acácia, de framboesa (imagina!) e de outras coisas cujos nomes não consigo entender.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Leis do trabalho polacas

. No dia de Todos-os-Santos todas as lojas são obrigadas a estar fechadas (para os trabalhadores descansarem) - excepto farmácias e tal.
. Como o Todos-os-Santos calha num sábado, algumas empresas dão um dia de folga durante a semana para compensar. Isto significa fim-de-semana prolongado na próxima semana. :)

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ainda sobre marcas portuguesas

Ontem, enquanto folheava uma daquelas revistas para mamãs, que aconselham a comprar mil e uma inutilidades para os filhos, encontrei uma coisa engraçada:

Esta página mostra vários produtos alimentares aconselhados para crianças. Mas vejamos melhor o que aparece no canto superior esquerdo:

Aaaah, mas são os potezinhos de fruta da Compal!! Que surpresa! Há uns meses, uma pessoa disse-me que encontrou há venda no Tesco algo que eu identifiquei como sendo estes essenciais de fruta da Compal (diziam-me que era uma marca portuguesa). Só que de cada vez que eu lá ia, nunca encontrei nada. Ontem, naquela revista, finalmente encontrei! Apenas um pormenor... No texto por baixo diz que isto é da marca Ogrody Natury e dá o respectivo site. Fui lá ver se encontrava alguma coisa, mas nada. Vou ver se retomo a minha busca nos supermercados (na Biedronka não!...lol), a ver se encontro.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Finalmente: a minha ida à Biedronka!

Ao fim de quase dois anos na Polónia, fui finalmente pela primeira vez fazer compras à Biedronka. A Mcf já me tinha massacrado para lá ir, mas a verdade é que na zona da cidade onde vivo não há nem uma! Apesar de uma vez me terem dito para lá ir ver se havia produtos portugueses que não há cá (tipo batata palha), nunca tive grande entusiasmo. Até porque as últimas publicidades que vi deles diziam algo tipo "90% de produtos polacos". Achei que era pouco provável que aqueles 10% fossem precisamente produtos portugueses, então não tinha vontade de lá ir.
Ontem, por fim, talvez por ainda estar na ressaca das férias em Portugal, achei que teria piada lá passar. Fui ao site deles, para ver se descobria qual era a loja mais perto de nós. Em Varsóvia há 27 Biedronkas, a maioria delas em zonas um bocado manhosas. Acabei de descobrir uma que ficava nas vizinhaças e lá fomos nós, quase à hora daquilo fechar.
Ficava num sítio um bocado escondido, mas depois de darmos algumas voltas, conseguimos chegar lá. À entrada, reparei logo nos cestos-carrinho iguais aos que há no Pingo Doce, só que em vermelho. Tentámos arranjar um que tivesse rodas, mas foi inútil: todos tinham as rodas partidas! Foi uma espécie de prenúncio do que seria toda a loja. Assim um bocado ao jeito do Lidl (como me disseram uma vez que a Biedronka era suposto ser parecida com o Lidl), nas prateleiras e chão podemos encontrar as coisas todas em caixas abertas. Tudo posto assim a granel para cada um chegar lá e se servir. As marcas para mim eram quase todas desconhecidas. Tirando uma ou outra (e a marca Biedronka, claro), nunca tinha visto nenhuma daquelas marcas. A única coisa que me impressionou positivamente foi a qualidade dos frescos. Às vezes tenho dificuldade em conseguir comprar num supermercado umas cenouras ou tomates de jeito. E ali, surpresa das surpresas, tudo tinha um aspecto "rural saudável". Fiquei fã. Mas acho que foi só mesmo disso. Vou ter de ser sincera: a loja era realmente manhosa e tinha um ar sujo... E as dúas únicas coisas que encontrei com marca portuguesa foi vinho do Porto marca Pingo Doce e pastéis de nata congelados marca Gelpeixe (Porto e pastéis de nata, ou seja, aquilo que um dia antes tínhamos trazido connosco de Portugal...). E para terminar bem, não se pode pagar com cartão. Por sorte tínhamos levado uns trocos que chegaram. Sim, porque os preços de facto são baixos (com marcas desconhecidas, não podia ser outra coisa) e pagámos menos do que o normal.
À saída, já no carro, mal tínhamos começado a andar oiço um estrondo do meu lado, como se uma pedra ou algo tivesse batido na porta. Parámos o carro mais à frente e vimos que alguém tinha atirado um tomate ou uma maçã contra nós. O que eu não sabia é que aquele bairro onde estava esta Biedronka também é algo manhoso (que estranho!).
Em suma, não penso voltar à Biedronka tão cedo. Ainda por cima também não dão sacos de plástico.

O horário solar polaco

Já antes disse aqui que na Polónia no Verão o sol nasce exageradamente cedo. No Inverno, pelo contrário, põe-se exageradamente cedo. Estes dois extremos fazem com que o sol "viaje" a uma grande velocidade por estes lados.
Quando a Teresa nasceu, em Junho, lembro-me de acordar de noite pelas 3h da manhã e já não precisar de acender nenhuma luz na cozinha, porque o dia já estava a começar. Há umas semanas atrás, às 5h fui à cozinha e senti a mesma sensação. Ou seja, os dias agora estão muito mais curtos. Em suma, estar na Polónia implica ter um bom relógio, porque pelo sol não vamos lá.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Um momento de história: A Batalha de Grunwald

Este verão (que entretanto já acabou) só tivemos direito a um fim de semana de férias. Passámo-lo em Dąbrówno, uma vila na região da Mazúria, ladeada por dois grandes lagos. O sítio, devo dizer, é bastante giro. Nunca tinha passado férias (ainda que mini-férias) nos lagos, como cá se costuma fazer muito. E, de facto, gostei muito. Fizemos canoagem, andamos de barco a remos e só não nadámos porque estava uma aragem demasiado fresca.
Dąbrówno é uma vila histórica. Foi construída pelos cruzados no século XIV. Os cruzados, na sua luta contra os infiéis, vieram até esta zona da Europa e aqui se estabeleceram durante algum tempo. Apesar da Polónia ser um país cristão, tinha uma grande tolerância religiosa e entre os seus aliados contavam-se alguns povos vizinhos de leste de outras religiões. Por isto, eram alvo de repetidos ataques por parte dos cruzados, também chamados cavaleiros teutónicos.
Os cruzados deixaram a sua marca em várias regiões da Polónia, onde se podem ver os fantásticos castelos que construíam. O maior deles todos está em Malbork. Passei por lá em Janeiro deste ano, mas já tarde demais para visitar ou sequer fazer fotos do exterior. O castelo de Malbork é património da Unesco e é o maior no mundo construído com tijolos. No séc. XIV era neste castelo que se encontrava o grão-mestre dos cruzados.
A vila de Dąbrówno fica muito perto de Grunwald, outra vila polaca de grande interesse histórico. Foi aqui precisamente que se deu aquela que por muitos é chamada de maior e mais sangrenta batalha da Idade Média. De um lado, os cruzados. Do outro, os exércitos polaco e lituano (e mais alguns aliados), chefiados pelo rei polaco Władysław Jagiełło. Esta batalha, da qual sairam vencedores os polacos, acabou com a presença dos cruzados na região da Polónia e foi o início do declínio da ordem, que mais tarde se veio a extinguir. Ao que parece, os polacos massacraram mesmo! Apesar de não haver consenso quando ao número de tropas de cada um dos lados, sabe-se que os polacos e os seus aliados eram mais que os cruzados. Ou seja, enquanto nesta altura os portugueses andavam entretidos a querer conquistar meio mundo, os polacos andavam a expulsar os cruzados do seu território. Uma ordem religiosa de cavaleiros que deviam defender a fé, acabou por ser derrotada por um reino cristão (será por o rei ter mandado celebrar duas missas antes da batalha?).
Todos os anos, no aniversário da batalha (15 de Julho de 1410), realiza-se uma gigante encenação deste acontecimento no descampado de Grunwald. Ainda não tive oportunidade de assistir, mas espero algum dia conseguir lá ir. O terreiro onde se deu a batalha é enorme. Percebe-se que, de facto, era o sítio ideal. Actualmente, a zona continua aberta como antes. Apenas tem um museu subterrâneo e um ou outro monumento. Curioso o facto de estarem lá os restos de um monumento dedicado a esta batalha que estava em Cracóvia, mas que os nazis destruiram durante a guerra. Isto porque a maioria dos cruzados eram alemães.
A batalha de Grunwald ficou imortalizada por um famoso quadro do pintor polaco Jan Matejko, em exposição no Museu Nacional, em Varsóvia.

Entretanto, há uma semana vi um filme polaco dos anos 60 inspirado no livro de Henryk Sienkiewicz, chamado Os Cruzados. Mostra um pouco de como era a Polónia nesta época em que os cruzados dominavam uma parte do actual território polaco. É muito interessante. Apesar de ser uma obra de ficção, tem um background histórico. O filme mostra como os cruzados tinham começado a perder a essência religiosa da ordem e só queriam era fazer guerras. Termina com a batalha de Grunwald, é claro, e a vitória dos polacos sobre os "mauzões" cruzados.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Casamento à polaca

No sábado casou-se o Jarek, irmão do Stas. Foi o primeiro casamento a que fomos com a Teresa e também o meu primeiro casamento polaco. Sim, porque na Polónia os casamento são um pouco diferente dos de Portugal. Passo a explicar.
Antes ainda da cerimónia religiosa, algumas famílias têm a tradição de fazer uma bênção dos noivos. Reúnem-se na casa dos pais de um deles, com algumas pessoas da família, e lá fazem o seu pequeno ritual. Claro que nem todos fazem isto (até porque é um ritual um bocado inventado, já que a bênção mesmo recebem-na os noivos na igreja, não é em casa que se casam). Bem, mas passando à frente, na Polónia os noivos chegam juntos à igreja. Ah pois é! Vão à sacristia assinar os papéis (cá é assim, se desistimos no início da celebração, azar, já assinámos os papéis!!...) com os padrinhos, que são só dois - um do noivo e uma da noiva. Os noivos chegam juntos ao fundo da igreja, com os padrinhos alinhados atrás e esperam que o padre os vá saudar. O padre vai ter com eles, diz algumas coisas e regressa pelo centro da igreja. Os noivos seguem-no e atrás destes os padrinhos. Eu, que sou um bocado tendenciosa, devo dizer que acho mais giro e simbólico o noivo ficar à espera no altar e a noiva entrar com o pai, que a entrega ao noivo. Mas na Polónia não é assim.
Depois, os noivos lá se sentam no centro da igreja, em frente ao altar. Atrás deles, nuns banquinhos individuais, estão os padrinhos. Ou seja, durante toda a celebração, os padrinhos ficam ali em destaque como os noivos. Costinhas direitas e nenhum gesto! A diferença é que não têm genuflexório e os bancos não estão juntos, mas um pouco afastados. Durante o rito do matrimónio, faz-se a invocação do Espírito Santo antes dos noivos fazerem as suas promessas. Para os mais atentos, no nosso casamento também fizemos isso. No fim da Missa, como os noivos já assinaram os papéis todos, toca-se a marcha nupcial e lá vão eles igreja fora, com os coitados dos padrinhos atrás (devo dizer que eu não gostava nada de ser madrinha num casamento polaco... É um bocado seca...).
Lembrei-me agora que menti ao dizer que este era o meu primeiro casamento polaco. Não é verdade. Já assisti a outros. Foi o meu primeiro copo-de-água polaco, isso sim! Digo isto porque há uma tradição polaca que não vi fazerem neste casamento, mas já vi noutros. Ao sairem da igreja, os convidados atiram para o ar (não para cima dos noivos, senão ainda se magoavam) várias moedas. É tarefa dos noivos recolhê-las todas e isso dirá se vão ter uma vida próspera ou não (se não as recolherem todas... é mau sinal).
Típico polaco é levar-se flores para o casamento. No fim da Missa, os convidados fazem fila para ir cumprimentar os noivos e dar-lhes flores. Nós não ficámos na fila, porque estava um frio desgraçado e a Teresa tinha fome. Aproveitei neste momento para fazer uma passagem por casa e de seguida fomos para o copo-de-água.
Chegámos ao hotel antes dos noivos, que ficaram a tirar fotografias. Há uma tradição polaca em que os pais dos noivos os recebem à entrada da sala com pão e sal (não faço a mínima ideia do simbolismo disto). Depois lá fomos aos comes e bebes. Na Polónia, faz-se uma refeição principal, mas depois ao longo da noite vão aparecendo outras pequenas refeições. Dizem que isto se faz, porque os polacos gostam muito de vodka e, quando se abusa da bebida, é bom ir comendo bem para compensar. Neste caso, foi um casamento sem álcool. Só no início, depois da entrega do pão e do sal é que se serviu champanhe, mas foi só mesmo isso.
Agora, a coisa engraçada dos casamentos polacos é que têm um entertainer que vai fazendo a festa. Ele inventa jogos, danças, põe música, enfim, anima mesmo os convidados! É uma coisa que tem piada. Este, pelo menos, arranjou uns momentos giros. A mim faz-me confusão é que os polacos gostam muito de dançar, mas sobretudo a pares. Eu, que sou um pé de chumbo, evitei grandes danças para não dar barraca. Ao princípio não queria ir, mas depois lá me convenceram. Só que, para meu azar, iniciei-me logo numa brincadeira em que calhava dançarmos com outra pessoa qualquer. Felizmente o meu marido veio salvar-me e trocou de par comigo.
Um pouco antes de comermos pela terceira vez, serviram o bolo dos noivos. Tipiquíssimo, com não sei quantos andares.
No fim da festa já não estive presente, porque entretanto os meus pés começaram a queixar-se e a filhinha também já estava cansadita. Sim, porque a marota divertiu-se que se fartou!! Estava toda bem disposta!
Várias pessoas me foram perguntando o que achava do casamento. Eu respondia sempre que achei diferente. Não posso dizer que é mais giro, porque estou habituada a outro estilo. Mas teve piada. A mim é que ainda me custa participar naquelas brincadeiras e jogos. Não estou habituada a fazer certas figuras tão bem vestida e diante de tantas pessoas (sobretudo mais velhas). Bem, pelo menos não posso dizer que eles não se divertem.
Por este ano, já chega de casamentos à polaca. Agora é só mais uma semana e picos para o casamento à portuguesa do ano.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Quem se lembra o Ursinho Teddy?

Ainda sobre ursinhos, descobri há uns meses que o Ursinho Teddy, que dava na televisão quando eu era pequenina, é um desenho animado polaco! Deixo aqui dois pequenos vídeos, do início e do fim. Se quiserem, depois posso escrever aqui a tradução do que ele canta.


Miś

Miś, em polaco, significa ursinho. Costuma ser usado como alcunha de alguém, ou como forma carinhosa de trato (geralmente entre casais ou pais e filhos). Miś é também o nome de um filme polaco muito conhecido, do início dos aos 80. A minha professora de polaco já me tinha recomendado ver este filme, para ter uma imagem dos anos do comunismo na Polónia. Eu, entretanto, tinha visto a sequela, chamada Ryś, mas que estreou no cinema no ano passado, ou seja, é um filme recente - nada de comunismos.
Há uns dias, finalmente, vi o famoso Miś. Devo dizer que é bastante engraçado, apesar de termos posto mil vezes em "pause" para eu poder perceber devidamente todas as piadinhas. Conta a história de um homem, presidente de um clube desportivo, que se divorciou e descobre que a ex-mulher planeia ir a Londres levantar todo o dinheiro de uma conta comum que eles lá tinham. Só que ela rasgou-lhe o passaporte para ele não pode sair do país. E para conseguir um passaporte novo, naqueles tempos, teria de esperar um ano. Então, ele vai procurar um sósia para conseguir tirar-lhe o passaporte e ir a Londres levantar o dinheiro todo antes da ex-mulher.
No meio destas confusões todas, vamos tendo uma imagem do que era a Polónia comunista. Ao princípio, eu achei estranho como era possível os comunistas terem deixado fazer um filme que gozasse com eles próprios. Explicaram-me que esta era uma espécie de "crítica controlada", quer dizer, se eles deixassem sair este filme com estas piadinhas, sabiam com o que contavam. E para eles era melhor isto assim, do que um filme com críticas mais fortes a circular na clandestinidade.
Neste filme podemos ver como eram as filas nas lojas, para se conseguir comprar algo; como os funcionários das lojas tratavam mal os clientes; como pessoas do campo traziam os seus bens para vender clandestinamente na cidade; como circulavam poucos carros e os transportes públicos estavam sempre a avariar (no filme há um dia em que os elétricos avariam todos e, para compensar, os comunistas criam o "dia do passageiro a pé"); como numa casa minúscula tinham de viver várias pessoas; como nas cantinas e refeitórios serviam mal as pessoas; como a polícia não tinha interesse nenhum em ajudar; enfim, uma infinidade de coisas. Em geral, é muito interessante, este filme. No fim, termina com uma cena em que no fundo estão umas pessoas vestidas à camponeses típicos polacos e a cantar uma música de natal, só que a letra foi devidamente alterada para não ter conteúdo religioso.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

O campo na cidade

Varsóvia é uma cidade tão grande que é preciso muito tempo para a conhecer mesmo bem. Volta e meia, decidimos fazer passeios de carro por zonas que não conhecemos. Desta vez, fomos investigar Wilanów, mas para os lados do rio.
Wilanów é um bairro bom. Tem zonas com muitas moradias, onde vive gente rica. A nível de transportes públicos não é das melhores, mas quem vive em algumas daquelas casas são pessoas que à partida têm carro. É um bairro que ainda se está a expandir; o volume de construção lá é enorme. Há uma zona onde estão a acabar de construir uma série de prédios baixos com apartamentos, com um ar bem giro.
Wilanów chega até ao rio Vístula. Por esse lado eu ainda não tinha andado. Passámos por uma zona de moradias que eu desconhecia. Apenas reconheci o nome de uma das ruas, porque lá morava uma colega minha alemã do curso de polaco no Polonicum. Esta zona era gira, mas só tinha lá pelo meio um mini-mercado, uma paragem de autocarro e pouco mais. Em termos práticos, se queremos uma farmácia, uma pastelaria, etc, ali é difícil encontrar. Só mesmo pegando no carrinho e andando uns quilómetros. Depois deste bairro, entra-se noutro que nunca pensei encontrar em Varsóvia. É literalmente uma aldeia! Casas típicas do campo, com quintais e zonas de cultivo, mesmo as pessoas têm um ar campesino, vestem-se de forma mais rural. É muito engraçado. Sente-se o cheiro dos pomares. A certa altura começou a cheirar-me a figos. Fiquei toda contente, a achar que iria comer figos na Polónia. De repente vimos uma árvore cheiinha de figos, parámos o carro para eu ir tirar um, mas... Quando chegámos lá não eram figos!! A minha nabice surpreendeu-me, que com o desejo guloso de comer, nem reparei que a folha da árvore era diferente da da figueira. Lá tive de me resignar e continuar o passeio pelo campo citadino.
Devo dizer que nunca pensei encontrar uma aldeia daquelas dentro de uma cidade. De facto, Varsóvia é mesmo diferente de Lisboa. Lisboa é uma cidade muito delimitada, que já não tem espaço para crescer. Varsóvia ainda tem muitas zonas por explorar (vê-se com os novos bairros que vão surgindo, como estes prédios novos de Wilanów de que falei há pouco). Claro que não vai ter novos bairros, porque à volta também tem outras pequenas povoações. Mas dentro dos que já existem (tirando o centro, é claro), ainda há muitas coisas interessantes e muitos espaços verdes.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Sobre o nome Teresa

Teresa é um dos poucos nomes que se escrevem da mesma maneira em português e em polaco. Quando estava na sala de partos, perguntaram-me que nome tinha pensado para a bebé e nós dissemos Teresa. "Ah, que engraçado!", disseram todos contentes, porque a enfermeira anestesista também se chamava Teresa. Uns tempos depois, já não me lembro porquê, comecei a perceber que este nome afinal já não é muito comum na Polónia. O exagero aconteceu numa loja, quando uma funcionária se virou para nós, depois de ter metido conversa, e comentou: "Teresa é o nome da minha avó!"... Bem, uns dias depois, noutra loja (não, eu não passo a vida em lojas, mas é que é lá que as pessoas metem conversa!...) a empregada quando soube que ela se chamava Teresa, disse: "Finalmente um nome polaco!". Começou-se ali um diálogo sobre os nomes que agora os pais dão às crianças, que são um bocado estranhos. Há nomes como Maja (lê-se como a abelha), Pola, Nina, Nela, Sonia e outros que tais que fogem um pouco à tradição polaca. Noutro dia, também, a ortopedista disse-nos que era a primeira bebé Teresa que ela recebia no consultório (será que ela tem poucos pacientes?).
Portanto, se em Portugal o nome Teresa agora está na moda, na Polónia pelos vistos é nome de avó! Quer dizer que temos uma avózinha pequena em casa.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Uma lição de botânica

Se em Portugal há certas frutas que não são cultivadas por cá, também existe o inverso. No que toca a frutos do bosque então, nem se fala. Destas espécies o que eu gosto mesmo é de amoras; é das coisas mais giras o tradicional passeio ao Pinheiro Grande enquanto se apanham (ou simplesmente depenicam) amoras pelo caminho.
Na Polónia ainda não vi amoras. Em contrapartida, existem vários frutos do bosque que eu desconhecia totalmente. Para mim, olhando para eles, são todos iguais - muda apenas a côr. Na realidade, não é bem assim. Uns são mais doces, outros mais ácidos, etc. Passo a apresentar alguns destes frutos que fiquei a conhecer aqui:


Czarna porzeczk
a. Diz a Wikipédia que em português se chama cassis. Parece-me que serão as bagas mais comuns, uma vez que se vende imenso em sumo, iogurtes, chás, etc.





Czerwona porzeczka
. Em português não faço a mínima ideia do que seja. É tipo a anterior, mas vermelha e mais ácida.





Jagoda. Em polaco, para além do nome de um fruto é também um nome próprio de mulher. Em português penso que corresponde a mirtilo. Parece igual ao cassis, mas não é.



Żurawina. Outra que desconheço o nome em português. Também este parece igual às outras baguinhas vermelhas, mas não é. A compota disto usa-se cá por vezes como acompanhamento para bifes. Acho que não é doce.





Agrest. Mais uma vez, parece igual, mas não é. Ao que parece, isto serão groselhas.




Tudo isto para dizer que noutro dia ofereceram-nos um cesto cheio de czerwona porzeczka. Pensámos logo em fazer sumo das ditas baguinhas e certa noite resolvemos meter mãos à obra. Começámos todos contentes, mas depois percebemos que foi um presente semi-envenenado. Nem sei ao certo quanto tempo demorámos a tirar as baguinhas todas uma a uma dos cachos para as podermos usar... O cesto aparentava não ser muito grande, mas as bagas também não são. Digamos que apanhar amoras para fazer compota é bem mais simples. Ao fim de sei lá quanto tempo (desde que a pequenota nasceu, o tempo tornou-se algo muito relativo para mim) conseguimos terminar esta espinhosa missão e fizemos um jarro de sumo, só com a polpa das baguinhas. Parte delas ainda aproveitámos para fazer doce. Tivemos foi de usar bastante açúcar numa coisa e noutra, que a czerwona porzeczka é realmente muito ácida e tem um sabor bem forte.
Concluindo, na Polónia há mil e uma baguinhas pretas e vermelhas, que a mim me parecem todas iguais, mas não o são. Se alguém quiser vir cá agora nesta época do ano, pode vir fazer uma degustação para comprovar este facto. Em nossa casa pelo menos há czerwona porzeczka. Por enquanto.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Jakie śliczne maleństwo!

Agora onde quer que vamos o comentário que ouvimos é sempre o mesmo: "Mas que pequenina!" As pessoas parece que já se esqueceram como é um bebé com poucas semanas de vida. Em vários locais públicos e até no Consolado Português lá salta a bela da observação: "Jakie śliczne maleństwo!" (- Que pequenote tão querido!). Agora, o que eu gostei mesmo foi noutro dia numa loja, uma das empregadas - depois de comentar, como sempre, como ela era pequenina - virou-se para mim e disse que eu estava muito bem, em termos de silhueta, para quem tinha acabado de dar à luz. Neste momento, o meu ego subiu até ao cimo do prédio. Claro que isto vindo de uma pessoa que não me conhece de lado nenhum não tem qualquer espécie de valor. Mas o ego gostou. Ainda por cima porque eu ainda tenho um bocado de barriga, mas naquele dia estava com uma roupa que apertava nessa zona e disfarçava bastante bem. Coisas de mulheres!

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Pequenos retratos de Maio

O Palácio de Wilanów ao entardecer

Uma encenação de rua no dia 3 de Maio, feriado nacional polaco, dia da Constituição

Vista do Palácio de Łazienki, também no dia 3 de Maio (também havia lá encenações, concertos, etc)
Um pavão no parque Łazienki
A mais famosa estátua de Chopin

Muito me contas e nada me dizes

Nos últimos tempos tem-se tornado difícil escrever no blog. Com o aproximar do nascimento da bebé vão-se acumulando coisas para fazer e às vezes nem sei o que fazer primeiro. Então o blog vai ficando para trás.
Claro que isto não quer dizer que em Varsóvia não se tem passado nada. O mês de Maio foi, de certo modo, bastante activo. Desde o início de Maio até agora recebemos várias visitas, que nos permitiram dar umas belas passeatas, fomos duas vezes à ópera, uma ao ballet e duas ao cinema (para aproveitar enquanto ainda podemos), deitámos fora a cabine de duche da casa de banho e montámos uma banheira (o Stas, claro, eu não), comprámos a cama de grades para a pequenota (e mais uma vez o Stas montou). comprámos uma mesinha com cadeiras para a varanda (adivinhem quem montou??), e lá no meio ainda ficámos sem carro uns dias (felizmente agora já está bem) e sem Stas (que entretanto deu um mau jeito às costas... era uma alegria, nenhum dos dois a poder pegar em pesos... ir ao supermercado tornou-se algo muito... curioso). Juntando a isto todas as tarefas domésticas normais e a lentidão de uma mulher grávida, acho que dá para ter uma ideia de como temos estado.
Agora estamos em fase de espera do Euro, dos meus pais que estão quase a chegar (chegam com o Euro, basicamente) e da pequenota.
Apenas para terem uma ideia, apesar de estar mau tempo em Portugal, aqui em Varsóvia têm estado uns dias lindos, cheios de calor, em que só se aguenta de t-shirt. Ainda há pouco estive a experimentar as cadeiras novas da varanda, mas não consegui ficar muito tempo lá porque o sol estava a queimar. O lado negativo disto? Os dias começarem às 4 da manhã... Os nossos quartos estão virados a nascente, logo apanham a maior luz do dia aí entre as 7 e as 10, mais ou menos. Depois a partir das 11 já voltam a ficar mais escuros (isto mesmo com estores e cortinados fechados). Noutro dia acordámos cedo e tomámos o pequeno-almoço às 7 da manhã e parecia que eram 11 horas, tal era a quantidade de luz que já havia a essa hora. Originalidades da Polónia.
Fotos não tenho feito muitas, mas vou ver se encontro algumas giras para pôr aqui. Ah, é que entretanto também comprámos uma máquina fotográfica. Pois claro, com uma criança a caminho não podiamos não ter máquina!! Espero que seja o fim de fotos manhosas feitas com o telemóvel para o blog.

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Senhas de racionamento

Noutro dia, na aula de polaco, estivemos a ler um texto sobre a PRL - República Popular da Polónia, nome pelo qual a Polónia era conhecida durante o regime comunista (nome típico dos países comunistas). O texto falava sobre a vida do cidadão comum, a nível de consumos. Falava sobre as intermináveis filas em que as pessoas tinham de estar para conseguirem comprar alguma coisa. Apesar de todas as coisas que li e que são para mim de certa forma incompreensíveis (acho que para todas as pessoas que não viveram esta realidade, tudo isto soa a estranho), houve uma que me fez pensar um bocado. Os polacos tinham de ficar em filas para comprar alguma coisa, mas se não tivessem senhas de racionamento, de nada lhes servia. Havia senhas para carne, açúcar, leite, manteiga, gasolina, etc. Por exemplo, cada família tinha direito a 3 kg de carne por mês. E aqui é que eu me fiquei. 3 kilos por mês é muito pouco. Nós cá em casa somos dois (quase três, mas este três ainda não conta) e consumimos à vontade mais de 3 kg de carne por mês. Comecei, então, a perceber certos hábitos alimentares dos polacos. O Stas já me tinha dito uma vez que nós comiamos muita carne, o que eu achei estranho, porque achei que comiamos o normal. Afinal, é tudo uma questão cultural, se é que assim se pode chamar. Os polacos em geral são capazes de fazer várias refeições sem carne, ou usando apenas carnes frias, por exemplo. No fundo, era tudo uma questão de sobrevivência; tinham de se desenrascar de qualquer maneira. A pouco e pouco vou juntando assim pequenas peças de um puzzle e vou percebendo mais algumas coisas dos polacos (sobretudo das gerações mais velhas).

quarta-feira, 23 de abril de 2008

Ir à bola na Polónia

Há séculos que estou para escrever aqui sobre a minha ida ao futebol. Foi já há umas boas semanas (para não dizer meses). Decidimos um sábado ir ao estádio ver o Legia de Varsóvia jogar contra o ŁKS de Łódź, num dos primeiros (se não o primeiro) jogos da liga de Verão (eles cá fazem uma interrupção durante o Inverno). Estava um dia manhoso, de chuva, mas resolvemos ir na mesma. Fomos ao fim da manhã até ao estádio para comprar bilhetes para o jogo, que seria à noite. Deparámo-nos com uma situação curiosa: para comprar um bilhete era necessário ter um cartão de adepto. Este cartão não é o mesmo que um cartão de sócio, porque não pagamos quotas, só pagamos o cartão na hora e não é muito caro. Lá fomos nós fazer uns cartões para nós. E aqui começaram as filas... Fila para fazer o cartão, à chuva. Felizmente quando já estava quase na nossa vez, um dos stewards teve a gentileza de me convidar para a tenda onde tínhamos de preencher o formulário para eu não me molhar mais. Mal entro na tenda, começa a cair uma carga de água daquelas (e o Stas lá fora, à espera de vez para entrar...). Por fim fizemos os cartões, que ficaram todos janotas com a nossa foto. Depois... fila para levantar os cartões... À chuva, claro. Felizmente nesta altura já chovia pouco e até nem tivemos de esperar muito. No fim disto, fomos finalmente comprar os bilhetes, mas para a bancada coberta, que tanta chuva já chateava. Aqui tivemos sorte, porque a senhora da bilheteira estava com problemas no computador e mal nos vendeu os bilhetes, fechou a bilheteira - que estava com uma bela fila... Ui, digamos que os que estavam atrás de nós na fila não ficaram lá muito contentes...
Finalmente de volta ao carro, com os bilhetes na mão, planeámos logo vir a casa agasalharmo-nos mais um pouco, porque aquela chuva tinha-nos enregelado. Quando estávamos a caminho, começámos a analizar os bilhetes e... o jogo afinal era dali a uma hora!!! Nós convencidíssimos que era à noite!... Mal tivemos tempo de ir a casa, parar num McDrive e chegar novamente ao estádio.
O estádio!... Bem, começo por ver um exagero de polícia. Polícias com máscaras de protecção para a cara, tipo polícia de choque, com cães... Mas não era nem um nem dois, eram imensos!! Quando estávamos a chegar ao estádio eu ia muito bem comportadinha, porque eles realmente intimidavam. Não me lembro de ver nada assim em Portugal (mas também nunca fui a jogos de alto risco... apesar de aqui quase todos os jogos serem de alto risco...). Entrámos no estádio e, claro, não tem nada a ver com os nossos de Portugal. Mas aqui o Euro só vai ser em 2012. Bancada coberta, tudo fixe. Do outro lado, bancada descoberta. Do lado direito, a bancada dos visitantes, que mais parece uma jaula. Está bastante isolada das outras bancadas e com montes de grades para controlar os adeptos. E, claro, montes de polícia. Fazia um bocado de impressão vê-los assim tão separados.
Aqui não há claques propriamente ditas. Todos os adeptos gritam igualmente pelo seu clube. Os do ŁKS fartaram-se de apoiar a sua equipa. Os do Legia caladinhos, porque estão em conflito com o clube, qualquer desacordo com o patrocinador principal. Das poucas vezes que gritaram foi para insultar esse patrocinador. Nesta altura soube que aqueles cartões de adepto que fizemos foram uma forma do clube controlar quem vai ou não ao estádio e soube que há adeptos que foram banidos e não podem entrar. À entrada do estádio já nos tinham dado um panfleto a explicar todos os motivos pelos quais os adeptos estão descontentes com os patrocinadores, mas eu não liguei muito àquilo.
O jogo teve piada, o Legia acabou por ganhar, apesar de ter começado o jogo com o pé esquerdo. Não apanhámos chuva, porque os lugares eram bons e correu tudo bem. Nada de hooligans nem coisas do estilo. Mas, claro, muita chungaria. O futebol aqui nem sempre é bem visto. Há uma série de mitos em relação ao futebol que fazem precisamente com que quem acabe por ir aos jogos sejam os chungosos do costume. Se calhar porque cá há outros desportos que também atraem as pessoas, como os saltos na neve, etc. Mas acho que a pouco e pouco a tendência vai mudando.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Funeral polaco

Aí há um mês atrás estive num funeral aqui em Varsóvia. Tinha morrido a avó de uns primos do Stas. Curioso é que os funerais cá são um pouco diferentes. Ainda para mais este, que teve uma característica especial.
Pelos vistos, aqui não existem velórios, nem capelas mortuárias nas paróquias. Quando alguém morre, tem de esperar que haja vaga na igreja do cemitério para se celebrar lá missa de corpo presente seguida de funeral. Onde esperam, não sei, talvez nas funerárias. No caso desta avó, esperou-se uma semana e tal para o funeral.
Mas o mais interessante é que esta senhora era otrodoxa. O marido era católico e os filhos foram educados nesta religião. No fim da vida, ela contactou bastante com um padre católico e tinha muito boas relações com o catolicismo. Não obstante, pediu para ser sepultada no cemitério ortodoxo, onde já estavam os seus pais e irmãos (e não no cemitério onde o marido foi sepultado). Então, celebrou-se missa católica numa igreja de cemitério e em seguida foi-se para o cemitério ortodoxo, para uma celebração especial deles.
Foi a primeira vez que entrei numa igreja ortodoxa (não contando com aquela capela que há em Fátima). É simplesmente espetacular. Muito bem ornamentada, com montes de velinhas, mas daquelas muito fininhas. Ao centro tem o altar que está tapado por umas portas de madeira. Pelo que ouvi dizer, as mulheres não podem entrar ali e aquelas portas só se abrem em ocasiões especiais. Ou seja, ninguém vê o altar.
A celebração foi também espetacular. Os padres ortodoxos vestem-se normalmente com umas batinas pretas compridas, mas sem botões à mostra. Para a celebração não se vestem muito diferente dos padres católicos, mas acho que as vestes eram mais bonitas. A celebração consistiu no padre a rezar algumas orações, alternadas com cânticos (havia um coro especial). De salientar que tanto o padre como o coro tinham uns vozeirões indescritíveis. Muito bom. O que eles iam dizendo alternava entre o polaco e uma espécie de russo antigo, que é a linguagem litúrgica deles, acho eu. O padre segurava uma velinha nas mãos, em alguns momentos foi incensar o altar (que foi aberto!), alguns dos principais ícones da igreja e o caixão. Havia momentos em que ele dizia qualquer coisa e que era suposto benzermo-nos, o que me deixou bastante atrapalhada, porque não sabia se me benzia à católica ou à ortodoxa. Não tirei fotos durante a celebração porque, afinal de contas, tratava-se de um funeral. Achei que seria de mau gosto. Mas aproveitei para tirar algumas depois do cortejo fúnebre sair. No caminho até à sepultura, aquele coro brutal continuava a cantar e o padre a dizer as suas coisas.
Devo dizer que, em geral, apesar de se tratar de um funeral, foi muitíssimo interessante. Nunca tinha assistido a nada assim. Na Polónia existem ainda bastantes ortodoxos, apesar de ser um país maioritariamente católico. É uma característica da história da Polónia a sua tolerância religiosa desde sempre, o que fez com que, por exemplo, muitos judeus tivessem vindo parar cá durante as perseguições na Europa. Então, por estes lados é comum ver uma igreja ortodoxa, por exemplo. Para mim foi a primeira vez, mas para a maioria das pessoas que lá estavam certamente não terá sido. Esperemos por uma próxima oportunidade.

(Peço desculpa pela má qualidade das imagens, mas foram tiradas à pressa, como devem calcular, e com o telemóvel...)