quarta-feira, 23 de abril de 2008

Ir à bola na Polónia

Há séculos que estou para escrever aqui sobre a minha ida ao futebol. Foi já há umas boas semanas (para não dizer meses). Decidimos um sábado ir ao estádio ver o Legia de Varsóvia jogar contra o ŁKS de Łódź, num dos primeiros (se não o primeiro) jogos da liga de Verão (eles cá fazem uma interrupção durante o Inverno). Estava um dia manhoso, de chuva, mas resolvemos ir na mesma. Fomos ao fim da manhã até ao estádio para comprar bilhetes para o jogo, que seria à noite. Deparámo-nos com uma situação curiosa: para comprar um bilhete era necessário ter um cartão de adepto. Este cartão não é o mesmo que um cartão de sócio, porque não pagamos quotas, só pagamos o cartão na hora e não é muito caro. Lá fomos nós fazer uns cartões para nós. E aqui começaram as filas... Fila para fazer o cartão, à chuva. Felizmente quando já estava quase na nossa vez, um dos stewards teve a gentileza de me convidar para a tenda onde tínhamos de preencher o formulário para eu não me molhar mais. Mal entro na tenda, começa a cair uma carga de água daquelas (e o Stas lá fora, à espera de vez para entrar...). Por fim fizemos os cartões, que ficaram todos janotas com a nossa foto. Depois... fila para levantar os cartões... À chuva, claro. Felizmente nesta altura já chovia pouco e até nem tivemos de esperar muito. No fim disto, fomos finalmente comprar os bilhetes, mas para a bancada coberta, que tanta chuva já chateava. Aqui tivemos sorte, porque a senhora da bilheteira estava com problemas no computador e mal nos vendeu os bilhetes, fechou a bilheteira - que estava com uma bela fila... Ui, digamos que os que estavam atrás de nós na fila não ficaram lá muito contentes...
Finalmente de volta ao carro, com os bilhetes na mão, planeámos logo vir a casa agasalharmo-nos mais um pouco, porque aquela chuva tinha-nos enregelado. Quando estávamos a caminho, começámos a analizar os bilhetes e... o jogo afinal era dali a uma hora!!! Nós convencidíssimos que era à noite!... Mal tivemos tempo de ir a casa, parar num McDrive e chegar novamente ao estádio.
O estádio!... Bem, começo por ver um exagero de polícia. Polícias com máscaras de protecção para a cara, tipo polícia de choque, com cães... Mas não era nem um nem dois, eram imensos!! Quando estávamos a chegar ao estádio eu ia muito bem comportadinha, porque eles realmente intimidavam. Não me lembro de ver nada assim em Portugal (mas também nunca fui a jogos de alto risco... apesar de aqui quase todos os jogos serem de alto risco...). Entrámos no estádio e, claro, não tem nada a ver com os nossos de Portugal. Mas aqui o Euro só vai ser em 2012. Bancada coberta, tudo fixe. Do outro lado, bancada descoberta. Do lado direito, a bancada dos visitantes, que mais parece uma jaula. Está bastante isolada das outras bancadas e com montes de grades para controlar os adeptos. E, claro, montes de polícia. Fazia um bocado de impressão vê-los assim tão separados.
Aqui não há claques propriamente ditas. Todos os adeptos gritam igualmente pelo seu clube. Os do ŁKS fartaram-se de apoiar a sua equipa. Os do Legia caladinhos, porque estão em conflito com o clube, qualquer desacordo com o patrocinador principal. Das poucas vezes que gritaram foi para insultar esse patrocinador. Nesta altura soube que aqueles cartões de adepto que fizemos foram uma forma do clube controlar quem vai ou não ao estádio e soube que há adeptos que foram banidos e não podem entrar. À entrada do estádio já nos tinham dado um panfleto a explicar todos os motivos pelos quais os adeptos estão descontentes com os patrocinadores, mas eu não liguei muito àquilo.
O jogo teve piada, o Legia acabou por ganhar, apesar de ter começado o jogo com o pé esquerdo. Não apanhámos chuva, porque os lugares eram bons e correu tudo bem. Nada de hooligans nem coisas do estilo. Mas, claro, muita chungaria. O futebol aqui nem sempre é bem visto. Há uma série de mitos em relação ao futebol que fazem precisamente com que quem acabe por ir aos jogos sejam os chungosos do costume. Se calhar porque cá há outros desportos que também atraem as pessoas, como os saltos na neve, etc. Mas acho que a pouco e pouco a tendência vai mudando.

terça-feira, 1 de abril de 2008

Funeral polaco

Aí há um mês atrás estive num funeral aqui em Varsóvia. Tinha morrido a avó de uns primos do Stas. Curioso é que os funerais cá são um pouco diferentes. Ainda para mais este, que teve uma característica especial.
Pelos vistos, aqui não existem velórios, nem capelas mortuárias nas paróquias. Quando alguém morre, tem de esperar que haja vaga na igreja do cemitério para se celebrar lá missa de corpo presente seguida de funeral. Onde esperam, não sei, talvez nas funerárias. No caso desta avó, esperou-se uma semana e tal para o funeral.
Mas o mais interessante é que esta senhora era otrodoxa. O marido era católico e os filhos foram educados nesta religião. No fim da vida, ela contactou bastante com um padre católico e tinha muito boas relações com o catolicismo. Não obstante, pediu para ser sepultada no cemitério ortodoxo, onde já estavam os seus pais e irmãos (e não no cemitério onde o marido foi sepultado). Então, celebrou-se missa católica numa igreja de cemitério e em seguida foi-se para o cemitério ortodoxo, para uma celebração especial deles.
Foi a primeira vez que entrei numa igreja ortodoxa (não contando com aquela capela que há em Fátima). É simplesmente espetacular. Muito bem ornamentada, com montes de velinhas, mas daquelas muito fininhas. Ao centro tem o altar que está tapado por umas portas de madeira. Pelo que ouvi dizer, as mulheres não podem entrar ali e aquelas portas só se abrem em ocasiões especiais. Ou seja, ninguém vê o altar.
A celebração foi também espetacular. Os padres ortodoxos vestem-se normalmente com umas batinas pretas compridas, mas sem botões à mostra. Para a celebração não se vestem muito diferente dos padres católicos, mas acho que as vestes eram mais bonitas. A celebração consistiu no padre a rezar algumas orações, alternadas com cânticos (havia um coro especial). De salientar que tanto o padre como o coro tinham uns vozeirões indescritíveis. Muito bom. O que eles iam dizendo alternava entre o polaco e uma espécie de russo antigo, que é a linguagem litúrgica deles, acho eu. O padre segurava uma velinha nas mãos, em alguns momentos foi incensar o altar (que foi aberto!), alguns dos principais ícones da igreja e o caixão. Havia momentos em que ele dizia qualquer coisa e que era suposto benzermo-nos, o que me deixou bastante atrapalhada, porque não sabia se me benzia à católica ou à ortodoxa. Não tirei fotos durante a celebração porque, afinal de contas, tratava-se de um funeral. Achei que seria de mau gosto. Mas aproveitei para tirar algumas depois do cortejo fúnebre sair. No caminho até à sepultura, aquele coro brutal continuava a cantar e o padre a dizer as suas coisas.
Devo dizer que, em geral, apesar de se tratar de um funeral, foi muitíssimo interessante. Nunca tinha assistido a nada assim. Na Polónia existem ainda bastantes ortodoxos, apesar de ser um país maioritariamente católico. É uma característica da história da Polónia a sua tolerância religiosa desde sempre, o que fez com que, por exemplo, muitos judeus tivessem vindo parar cá durante as perseguições na Europa. Então, por estes lados é comum ver uma igreja ortodoxa, por exemplo. Para mim foi a primeira vez, mas para a maioria das pessoas que lá estavam certamente não terá sido. Esperemos por uma próxima oportunidade.

(Peço desculpa pela má qualidade das imagens, mas foram tiradas à pressa, como devem calcular, e com o telemóvel...)