quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Um momento de história: A Batalha de Grunwald

Este verão (que entretanto já acabou) só tivemos direito a um fim de semana de férias. Passámo-lo em Dąbrówno, uma vila na região da Mazúria, ladeada por dois grandes lagos. O sítio, devo dizer, é bastante giro. Nunca tinha passado férias (ainda que mini-férias) nos lagos, como cá se costuma fazer muito. E, de facto, gostei muito. Fizemos canoagem, andamos de barco a remos e só não nadámos porque estava uma aragem demasiado fresca.
Dąbrówno é uma vila histórica. Foi construída pelos cruzados no século XIV. Os cruzados, na sua luta contra os infiéis, vieram até esta zona da Europa e aqui se estabeleceram durante algum tempo. Apesar da Polónia ser um país cristão, tinha uma grande tolerância religiosa e entre os seus aliados contavam-se alguns povos vizinhos de leste de outras religiões. Por isto, eram alvo de repetidos ataques por parte dos cruzados, também chamados cavaleiros teutónicos.
Os cruzados deixaram a sua marca em várias regiões da Polónia, onde se podem ver os fantásticos castelos que construíam. O maior deles todos está em Malbork. Passei por lá em Janeiro deste ano, mas já tarde demais para visitar ou sequer fazer fotos do exterior. O castelo de Malbork é património da Unesco e é o maior no mundo construído com tijolos. No séc. XIV era neste castelo que se encontrava o grão-mestre dos cruzados.
A vila de Dąbrówno fica muito perto de Grunwald, outra vila polaca de grande interesse histórico. Foi aqui precisamente que se deu aquela que por muitos é chamada de maior e mais sangrenta batalha da Idade Média. De um lado, os cruzados. Do outro, os exércitos polaco e lituano (e mais alguns aliados), chefiados pelo rei polaco Władysław Jagiełło. Esta batalha, da qual sairam vencedores os polacos, acabou com a presença dos cruzados na região da Polónia e foi o início do declínio da ordem, que mais tarde se veio a extinguir. Ao que parece, os polacos massacraram mesmo! Apesar de não haver consenso quando ao número de tropas de cada um dos lados, sabe-se que os polacos e os seus aliados eram mais que os cruzados. Ou seja, enquanto nesta altura os portugueses andavam entretidos a querer conquistar meio mundo, os polacos andavam a expulsar os cruzados do seu território. Uma ordem religiosa de cavaleiros que deviam defender a fé, acabou por ser derrotada por um reino cristão (será por o rei ter mandado celebrar duas missas antes da batalha?).
Todos os anos, no aniversário da batalha (15 de Julho de 1410), realiza-se uma gigante encenação deste acontecimento no descampado de Grunwald. Ainda não tive oportunidade de assistir, mas espero algum dia conseguir lá ir. O terreiro onde se deu a batalha é enorme. Percebe-se que, de facto, era o sítio ideal. Actualmente, a zona continua aberta como antes. Apenas tem um museu subterrâneo e um ou outro monumento. Curioso o facto de estarem lá os restos de um monumento dedicado a esta batalha que estava em Cracóvia, mas que os nazis destruiram durante a guerra. Isto porque a maioria dos cruzados eram alemães.
A batalha de Grunwald ficou imortalizada por um famoso quadro do pintor polaco Jan Matejko, em exposição no Museu Nacional, em Varsóvia.

Entretanto, há uma semana vi um filme polaco dos anos 60 inspirado no livro de Henryk Sienkiewicz, chamado Os Cruzados. Mostra um pouco de como era a Polónia nesta época em que os cruzados dominavam uma parte do actual território polaco. É muito interessante. Apesar de ser uma obra de ficção, tem um background histórico. O filme mostra como os cruzados tinham começado a perder a essência religiosa da ordem e só queriam era fazer guerras. Termina com a batalha de Grunwald, é claro, e a vitória dos polacos sobre os "mauzões" cruzados.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Casamento à polaca

No sábado casou-se o Jarek, irmão do Stas. Foi o primeiro casamento a que fomos com a Teresa e também o meu primeiro casamento polaco. Sim, porque na Polónia os casamento são um pouco diferente dos de Portugal. Passo a explicar.
Antes ainda da cerimónia religiosa, algumas famílias têm a tradição de fazer uma bênção dos noivos. Reúnem-se na casa dos pais de um deles, com algumas pessoas da família, e lá fazem o seu pequeno ritual. Claro que nem todos fazem isto (até porque é um ritual um bocado inventado, já que a bênção mesmo recebem-na os noivos na igreja, não é em casa que se casam). Bem, mas passando à frente, na Polónia os noivos chegam juntos à igreja. Ah pois é! Vão à sacristia assinar os papéis (cá é assim, se desistimos no início da celebração, azar, já assinámos os papéis!!...) com os padrinhos, que são só dois - um do noivo e uma da noiva. Os noivos chegam juntos ao fundo da igreja, com os padrinhos alinhados atrás e esperam que o padre os vá saudar. O padre vai ter com eles, diz algumas coisas e regressa pelo centro da igreja. Os noivos seguem-no e atrás destes os padrinhos. Eu, que sou um bocado tendenciosa, devo dizer que acho mais giro e simbólico o noivo ficar à espera no altar e a noiva entrar com o pai, que a entrega ao noivo. Mas na Polónia não é assim.
Depois, os noivos lá se sentam no centro da igreja, em frente ao altar. Atrás deles, nuns banquinhos individuais, estão os padrinhos. Ou seja, durante toda a celebração, os padrinhos ficam ali em destaque como os noivos. Costinhas direitas e nenhum gesto! A diferença é que não têm genuflexório e os bancos não estão juntos, mas um pouco afastados. Durante o rito do matrimónio, faz-se a invocação do Espírito Santo antes dos noivos fazerem as suas promessas. Para os mais atentos, no nosso casamento também fizemos isso. No fim da Missa, como os noivos já assinaram os papéis todos, toca-se a marcha nupcial e lá vão eles igreja fora, com os coitados dos padrinhos atrás (devo dizer que eu não gostava nada de ser madrinha num casamento polaco... É um bocado seca...).
Lembrei-me agora que menti ao dizer que este era o meu primeiro casamento polaco. Não é verdade. Já assisti a outros. Foi o meu primeiro copo-de-água polaco, isso sim! Digo isto porque há uma tradição polaca que não vi fazerem neste casamento, mas já vi noutros. Ao sairem da igreja, os convidados atiram para o ar (não para cima dos noivos, senão ainda se magoavam) várias moedas. É tarefa dos noivos recolhê-las todas e isso dirá se vão ter uma vida próspera ou não (se não as recolherem todas... é mau sinal).
Típico polaco é levar-se flores para o casamento. No fim da Missa, os convidados fazem fila para ir cumprimentar os noivos e dar-lhes flores. Nós não ficámos na fila, porque estava um frio desgraçado e a Teresa tinha fome. Aproveitei neste momento para fazer uma passagem por casa e de seguida fomos para o copo-de-água.
Chegámos ao hotel antes dos noivos, que ficaram a tirar fotografias. Há uma tradição polaca em que os pais dos noivos os recebem à entrada da sala com pão e sal (não faço a mínima ideia do simbolismo disto). Depois lá fomos aos comes e bebes. Na Polónia, faz-se uma refeição principal, mas depois ao longo da noite vão aparecendo outras pequenas refeições. Dizem que isto se faz, porque os polacos gostam muito de vodka e, quando se abusa da bebida, é bom ir comendo bem para compensar. Neste caso, foi um casamento sem álcool. Só no início, depois da entrega do pão e do sal é que se serviu champanhe, mas foi só mesmo isso.
Agora, a coisa engraçada dos casamentos polacos é que têm um entertainer que vai fazendo a festa. Ele inventa jogos, danças, põe música, enfim, anima mesmo os convidados! É uma coisa que tem piada. Este, pelo menos, arranjou uns momentos giros. A mim faz-me confusão é que os polacos gostam muito de dançar, mas sobretudo a pares. Eu, que sou um pé de chumbo, evitei grandes danças para não dar barraca. Ao princípio não queria ir, mas depois lá me convenceram. Só que, para meu azar, iniciei-me logo numa brincadeira em que calhava dançarmos com outra pessoa qualquer. Felizmente o meu marido veio salvar-me e trocou de par comigo.
Um pouco antes de comermos pela terceira vez, serviram o bolo dos noivos. Tipiquíssimo, com não sei quantos andares.
No fim da festa já não estive presente, porque entretanto os meus pés começaram a queixar-se e a filhinha também já estava cansadita. Sim, porque a marota divertiu-se que se fartou!! Estava toda bem disposta!
Várias pessoas me foram perguntando o que achava do casamento. Eu respondia sempre que achei diferente. Não posso dizer que é mais giro, porque estou habituada a outro estilo. Mas teve piada. A mim é que ainda me custa participar naquelas brincadeiras e jogos. Não estou habituada a fazer certas figuras tão bem vestida e diante de tantas pessoas (sobretudo mais velhas). Bem, pelo menos não posso dizer que eles não se divertem.
Por este ano, já chega de casamentos à polaca. Agora é só mais uma semana e picos para o casamento à portuguesa do ano.