terça-feira, 8 de junho de 2010

Respondendo ao desafio da Margarida

Tenho andado com pouco tempo para bloguices, por isso aproveito o desafio da Margarida para responder pelo menos a duas questões:

1) Criei este blog quando vim viver para a Polónia, de certa forma para pôr a família e os amigos a par do que ia acontecendo por aqui. Entretanto acabei por receber visitas de toda a parte do mundo, achei piada sobretudo a pessoas do Brasil, descendentes de emigrantes polacos.
2) O primeiro post deste blog foi no dia 4 de Janeiro de 2007. Quem diria...

Mudando radicalmente de tema, por aqui finalmente chegou o calor. Tivemos umas trovoadas desgraçadas, em que em poucos minutos caía tanta água como nunca vi. O nosso atalho preferido para fugir ao trânsito, entre Ursynów e Wilanów, está fechado, porque houve desabamento de terras por causa da chuva. O Vístula esteve um espetáculo, com a água muito mais perto das pontes, copas de árvores a saírem de dentro de água e em certos sítios fazia impressão ver a água chegar onde sabíamos que normalmente não chega. Uma pequena praia fluvial a sul de Varsóvia simplesmente desapareceu do mapa. O pior disto tudo é que dizem que se calhar ainda não acabou... Desde que não chova nos próximos dias, sobretudo no fim-de-semana, tudo bem! É que estamos a preparar já a festinha de anos da Teresa e Deus queira que esteja tanto calor como no dia em que ela nasceu. Ah, é verdade, já consegui apanhar o meu primeiro escaldão nos ombros, o que é sinal que este solinho nos tem sabido muuuuuito bem.

sexta-feira, 21 de maio de 2010

Passamos de 8 a 80

Se no Inverno surpreendeu-me o facto do Vístula ter congelado, agora surpreende-me o facto de estar a transbordar das suas margens... Ainda não fui lá perto ver, mas daquilo que vi em fotos e filmes é incrível.

sábado, 17 de abril de 2010

O dia a dia de uma família bilingue

Várias pessoas nos disseram que com a Teresa devíamos ser firmes e eu falar exclusivamente em português e o Staś em polaco. Na prática não conseguimos fazer isso e acabamos por misturar as duas línguas. Há pouco íamos no carro e a Teresa começa a dizer no banco de trás: "Pão, makaron (massa), queijinho, szynka (fiambre)". A mistura de línguas dela é absoluta. A verdade é que já começa a perceber a diferença de certos ambientes. Há dias fomos passear com umas amigas polacas e ela percebeu que ali devia falar polaco e dizia woda em vez de água, etc (quando em casa normalmente prefere dizer aguinha). Quando a Maria esteve cá agora aprendeu a dizer siadaj, que quer dizer senta-te, porque a Teresa diz: senta! Siadaj!
Os nomes dos animais também vai dizendo conforme lhe apetece. Prefere dizer lew a leão, mas prefere macaco a małpa. Leite diz mleko, flores diz em português e sol também. Mas se dissermos estas palavras em polaco, percebe perfeitamente. Há poucos dias apercebi-me que sempre que lhe pergunto se quer alguma coisa e não quer, responde-me em polaco: nie chcę. Esta expressão aprendeu em polaco e é sempre assim que a diz, mesmo quando a pergunta é feita em português.
A nossa forma de a ensinar não é lá muito pedagógica, mas tem a sua piada e mostra-nos como de facto as crianças têm uma capacidade excepcional para aprender línguas.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Os polacos estão condenados à tragédia

Fim-de-semana intenso, começando com surpresas de aniversário, passando por exames de polaco e terminando com baptizado de família. Tudo isto com trágicos acontecimentos em background. Como reagir a isto? Não sei. Tenho amigos que choram, por conhecerem famílias que ficaram órfãs, outros que falam em conspirações, outros que foram acender velas junto ao palácio presidencial. É complicado, a Polónia de facto é um país que está condenado às tragédias. Ao menos acabou (por enquanto) as discussões inúteis sobre Katyn, se foi genocídio, se os russos devem pedir desculpa pela enésima vez, etc. Discussões que não acabariam, um tema no qual os políticos gostam de estar sempre a remexer. Agora acabou tudo isso, chega de patetice.
Katyn parece um local assombrado para os polacos. Pela segunda vez a elite polaca terminou os seus dias por ali.

Apenas uma nota sobre os meios de comunicação portugueses. Lamento a sua nabice no que toca a estes acontecimentos. Vi com cada inexactidão nos jornais online portugueses, que nem vou comentar. Felizmente li os polacos e sei como foi tudo na realidade. Os jornalistas portugueses deviam ter vergonha da sua ignorância e deviam estudar um pouco melhor os factos antes de os apresentarem. Digo eu, que sou formada em comunicação social e cada vez mais tenho vergonha da classe jornalística no meu país natal.

terça-feira, 30 de março de 2010

Retratos de Nałęczów

A ida a Lublin aconteceu apenas porque em Dezembro ganhei um fim-de-semana num hotel em Nałęczów. Nałęczów é terra de termas, um local muito conhecido pelos tratamentos que lá se fazem. Os seus ares são considerados muito bons para a saúde já há séculos. No primeiro dia fomos visitar Lublin, que fica a poucos quilómetros de distância, e no segundo dia passeámos por Nałęczów. Não há muito para ver e o pouco que há está aqui. É mais para se estar e relaxar do que propriamente visitar.


Estátua do escritor Bolesław Prus, autor de um livro muito conhecido pelos polacos chamado Lalka. Também ele passou muito tempo nos bons ares de Nałęczów. Na casa da foto de cima há um pequeno museu sobre ele.



Um lago no parque de Nałęczów

Um homem a pescar no meio do lago congelado.



domingo, 28 de março de 2010

Retratos de Lublin

Sem grande tempo para escrever no blog, aproveito para deixar aqui fotos da nossa viagem a Lublin e Nałęczów no mês passado. Para já, são só fotos de Lublin.

Ao longe a vista do castelo de Lublin. Infelizmente não o conseguimos visitar por dentro, porque chegámos tarde demais. Fica para uma próxima visita.

A parte de baixo do passeio real, caminho que vai em direcção ao castelo.

Casas bonitas da parte antiga da cidade. No meio desta praça vêem-se os fundamentos de uma antiga igreja que existia aqui e os russos destruíram no séc. XIX.

Uma casa na parte velha.

Uma das portas da cidade. Diz que o interior desta torre está conservado no museu da cidade. Não o vimos.

Uma rua no centro.

A entrada do antigo cemitério judaico, que data de há vários séculos. Tem um ar velho e abandonado por dentro, não sei se haverá alguém que tome conta dele. Lublin está muito ligada aos judeus, ali existe uma enorme escola rabínica (ou lá como se chama) e há mesmo um percurso turístico ligado aos judeus, que passa por vários locais com eles relacionados.

O portão de entrada do campo de concentração de Majdanek, para onde foram deportados os judeus do gueto de Varsóvia. Nunca estive em nenhum campo de concentração e tenho pouca vontade de estar. Aqui chegámos tarde demais e já não houve tempo de entrar. O simples facto de estar perto desta porta e olhar para ali, ver o arame farpado, etc, já faz muita impressão. Deixa mesmo o coração pequenino.

Mas, para não terminar com uma imagem triste, fica a promessa de em breve colocar aqui fotos de Nałęczów.

segunda-feira, 15 de março de 2010

Os deuses devem estar loucos!

E quando eu achava que já me tinha despedido da neve de vez esta estação, eis que ela aparece de surpresa. Esta noite nevou tanto que hoje de manhã tínhamos o carro num estado como nunca o vi nestes meses todos de Inverno em que tivemos dias e dias de muita neve. Indescritível! É o aquecimento global no seu melhor.

terça-feira, 9 de março de 2010

Papa śnieg (que é como quem diz, adeus ó neve!)

Nas últimas semanas derreteu praticamente toda a neve que caiu nos últimos meses. E, claro, como sempre, era um espetáculo de cócó de cão por toda a parte (podia fazer-se um concurso de qual passeio tinha mais). Tristezas... A temperatura subiu, ainda cairam mais umas neves, mas coisa de pouca dura. Ontem o frio voltou e apanhou-me de surpresa (-6ºC à noite). Felizmente hoje já parece melhor. E sol, sim, por cá temos tido bastante sol.
O outro tempo - o dos relógios - é que vai começando a faltar. Meti-me a fazer um curso de e-learning de uma universidade polaca e agora já acho que fui demasiado ambiciosa. O curso é interessante e tal, mas o facto de ser em polaco faz com que eu avance muito mais lentamente do que os outros participantes do curso. Vamos ver no que é que isto vai dar. Para além disto, vou fazer também mais um exame oficial de polaco como língua estrangeira. Já nem falo dos vários trabalhos que entretanto me começaram a aparecer e das idas quase diárias ao ginásio (um ginásio espetacular que tem uma sala para as crianças com babysitters que se ocupam por elas enquanto os pais se exercitam). Em suma, o tempo está a rir-se de mim à grande e eu, coitada, bem que corro atrás dele a ver se o apanho, mas sem grande sucesso. O que vale é que ainda temos uns dias de férias na neve à nossa espera e outros - mais tarde - em Portugal.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Quem é (o) Dâmaso?

Quando fui à ópera ver o Straszny Dwór, houve um pormenor que me chamou a atenção. Havia uma personagem chamada Damazy - Dâmaso, em português. Era um nobre que andava todo empinocado, cheio de cuidados, que contrastava obviamente com os heróis da ópera: outros nobres que se juntaram ao exército para lutar contra o invasor inimigo. Estes aparecem como corajosos, homens a sério, enquanto que o Damazy é um tipo superficial, com a mania que é bom e manhoso.
Lembre-me muito na altura do Dâmaso Salcede, do Eça de Queiroz. Apesar destas duas personagens serem obviamente muito diferentes, não pude deixar de reparar em algumas semelhanças - sobretudo no ridículo. Será que no séc. XIX "ser Dâmaso" significava alguma coisa?

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Neve, neve e mais neve!

De facto, neste momento na Polónia só se vê é neve. As temperaturas subiram e ficaram propícias a nevões. Nos últimos tempos já fiquei com o carro preso na neve algumas vezes, mas felizmente com algum jeitinho consegui sempre sair dessas situações. Também já experimentei a sensação pouco simpática de os travões não funcionarem tão bem como antes, mas graças a Deus sem consequências graves. Há pilhas de neve mais altas do que eu e há sítios por onde já nem me atrevo a passar, a não ser que queira encher a roupa toda de neve. O reverso da medalha é que temos direito a um Inverno branquinho, o que dá mais alento do que o Inverno cinzentão de quando não há neve. Giro, giro, foi ter visto o Vístula congelado! Olhava-se para ele e era uma massa branca de uma ponta à outra. Depois derreteu e voltou a ver-se a água, mas no domingo quando passámos a ponte estava tudo branco outra vez.

A vista de uma das pontes sobre o Vístula.

Uma estrada fora de Varsóvia no Domingo de manhã.

Um grupo de pessoas a andar em trenós puxados por um tractor, brincadeira típica no campo.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dia de sorteio

Sábado de manhã ia eu muito bem de carro pela rua Żwirki i Wigury, que liga o aeroporto mais ou menos ao centro da cidade, e vejo em cada candeeiro três bandeirinhas: uma da Polónia, uma com o logo do Euro 2012 e uma da Ucrânia. Pensei logo que haveria alguma coisa, ou que alguém importante chegasse naquele dia. Afinal foi dia de sorteio para as eliminatórias do Euro e diz que o Queirós esteve por cá. Alheada como estou, se não fosse pelas bandeirinhas, nem tinha dado por nada...

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Uma ópera polaca

Ontem fui à ópera. Já não ia desde antes da Teresa nascer. Lembro-me que quando faltava um mês para o fim do tempo, fomos várias vezes (cheguei a ir de almofadinha, para ver se ficava mais confortável, por causa do barrigão). Talvez por isso a Teresa goste tanto de música. Desta vez, fomos ver uma ópera de um compositor polaco, Stanisław Moniuszko, chamada Straszny Dwór (a mansão assombrada). É uma obra muito conhecida na Polónia, mas pouco no estrangeiro. Do que percebi, isto deve-se ao facto de na altura ter sido abafada. Apesar de não ser este o enredo principal, numas entrelinhas muito óbvias podemos ler a exaltação de valores, como o amor à pátria e à Igreja Católica. Moniuszko viveu no séc. XIX, numa altura em que a Polónia estava repartida pela Rússia, Áustria e Prússia. Ora, neste contexto político, uma ópera polaca que exaltasse estes valores não era propriamente bem vista. Straszny Dwór estreou em Varsóvia em 1865, mas não passou das três apresentações. O czar da Rússia não gostou e apressou-se a censurá-la. Moniuszko acabou por morrer sem nunca mais ver o seu trabalho em cena.
A história da Mansão Assombrada é engraçada e em geral pareceu-me tudo muito bem feito, cenários, roupas, etc. Para um estrangeiro tem piada, porque apresenta um pouco da Polónia do séc. XIX, tradições, costumes, etc. Gostei sinceramente. Saliento apenas um momento no VI acto em que dançaram uma mazurca, dança típica polaca, ritmada, que se popularizou bastante precisamente no séc. XIX. Foi um dos melhores momentos do espetáculo.

domingo, 31 de janeiro de 2010

Vinhos portugueses na Biedronka

Ontem uns amigos disseram-nos que na Biedronka havia uma feira de vinhos portugueses até dia 8 de Fevereiro. Saltámos logo do nosso sofá e fomos lá ver se havia algo interessante. Encontrámos, de facto, vários vinhos e a preços bastante bons, tendo em conta os preços de outros supermercados. Trouxemos para casa Porta da Ravessa e mais uns quantos de que nunca tinha ouvido falar, da Beira e do Alentejo. Achei curioso todos eles terem a etiqueta atrás em polaco.
Adicionalmente, vimos também lá à venda pastéis de nata, mas desta vez em embalagens muuuuuito mais pequenas e com um preço totalmente injustificado. Por isso e porque há dias vi uma receita que me pareceu boa, decidimos não comprar. Qualquer dia experimento fazer em casa.

Continuo com uma imagem muito deprimente da Biedronka... Chão todo badalhoco (ok, com a temperatura a aumentar e a neve a derreter percebo que é difícil ter o chão limpo, mas há limites...), tudo caótico... enfim, fica-se mesmo sem vontade de lá voltar. Perguntei a esses amigos que nos falaram dos vinhos se a Biedronka deles também era assim. Disseram que felizmente não é suja como esta, o que me deu alguma esperança de encontrar um destes supermercados com um ar minimamente aceitável.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Arbeit macht frei

Mesmo sem a conhecida placa introdutória do campo de concentração de Auschwitz, comemoram-se hoje os 65 anos da libertação deste campo pelo Exército Vermelho.
No Outono de 1944, os nazis começaram a operação para encerrar Auschwitz, queimando ficheiros, destruindo provas (entre as quais fornos crematórios) e transferindo prisioneiros para campos de concentração na Alemanha. A 27 de Janeiro de 1945, quando o Exército Vermelho chegou, libertou apenas 8 mil prisioneiros, entre os quais 500 crianças, doentes e esfomeadas. Muitos apressaram-se a voltar a casa, outros ficaram em hospitais das redondezas e alguns acabaram por morrer de exaustão.
Hoje, em Auschwitz, vão estar mais de 150 s0breviventes a participar na comemoração do fim deste pesadelo. Entre eles estará Anna Stachowiak, na altura uma criança. Originária de Poznań, viu-se obrigada a fugir para Varsóvia com a mãe e os irmãos após o massacre de Katyń, onde o pai foi assassinado. Viveram numa casa em Ochota, de onde pouco saíam e quase não se afastavam. Anna tinha uns 6 anos e ia-se familiarizando com a guerra. Ouvia as conversas dos adultos e sabia o que podia ou não fazer. Nas ruas volta e meia os soldados nazis apanhavam pessoas para as levar para campos de concentração e tinham de ter cuidado com isso.
Durante a Insurreição de Varsóvia, como represália, os alemães prenderam muitos civis, entre os quais Anna e a família. Foram todos enviados para Auschwitz. À chegada foram separados; a mãe para um lado, o irmão para outro e Anna e a irmã para outro.
Auschwitz visto pelos olhos de uma criança é algo que impressiona. O testemunho desta senhora é incrível. Alguns meses depois, a mãe e o irmão partiram na chamada Marcha da Morte, parte do plano alemão para encerrar o campo antes da chegada dos russos. Dias depois, quando chegaram os soldados vermelhos, Anna e a irmã foram levadas para casa de uma prisioneira que morava nas redondezas, mas daí seguiram para o hospital de Cracóvia, tal era o seu estado. Aí permaneceram vários meses até ficarem bem. O que aconteceu depois não sei. Imagino que Anna tenha ido para a escola e tentado ter uma vida normal. Diz que durante anos não conseguia ouvir alguém falar alemão sem ficar afectada, até a nível de saúde. Agora, há já uns anos, conseguiu enfrentar os seus traumas e trabalha numa fundação que contacta com ex-prisioneiros de campos de concentração. E hoje vai lá estar, outra vez, a olhar para ao barracão onde passou tantos dias e tantas noites.
A mãe de Anna acabou por morrer na Alemanha, mas o irmão sobreviveu à guerra. Conseguiu estudar e arranjar trabalho. No entanto, o facto do pai ter morrido em Katyń prejudicou-o a nível profissional, pois os comunistas perseguiam todos os polacos patriotas, fossem membros da AK (resistência), familiares das vítimas de Katyń (afinal de contas, vítimas dos comunistas), membros da legião de Piłsudski, ou quaisquer outros que apoiassem a Polónia livre. O irmão de Anna acabou por não conseguir ter uma vida muito normal devido aos traumas que trouxe do tempo da guerra.

Esta é apenas uma de tantas e tantas histórias relacionadas com Auschwitz. Infelizmente a maioria delas não acaba tão bem como esta, tendo em conta que Anna e os irmãos sobreviveram. Lembro-me de ouvir contar na família do Staś de alguém que esteve num campo de concentração e que quando escrevia cartas à família não podia dizer que algo estava mal, então tinha de escrever com um certo código. Dizia que a comida era boa e coisas do estilo, que todos obviamente sabiam ser mentira. Certo dia, escreveu a perguntar como estava uma tal tia, pois tinha ouvido dizer que estava doente. Naquele momento a família percebeu que ele estava doente, pois não havia nenhuma tia com aquele nome (que, aliás, era o nome dele escrito no feminino). Felizmente foi libertado e voltou para junto da família. Dele ainda se guarda uma bolsinha que trouxe ao pescoço no campo de concentração, com relíquias de Santa Teresinha.

Hoje está frio e neva. Há 65 anos atrás, quando o Exército Vermelho entrou em Auschwitz, o dia também estava assim. Recordações tristes da história da Polónia e da Europa.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Séc. XVII: Jan Kazimierz em Portugal?

No sábado recebi um sms de alguém a dizer-me que na Antena 2 estava a dar um programa sobre música polaca. Já não era a primeira vez que recebia um sms daqueles, mas da outra vez não tinha tido oportunidade de ouvir. Desta vez, através da internet ligámos a Antena 2 e ouvimos. Ao que parece, é um ciclo de programas sobre a música polaca ao longo dos séculos. Neste programa que ouvimos particularmente interessante foi uma referência que fizeram ao rei polaco Jan Kazimierz. O Staś quando ouviu também ficou surpreendido, porque não sabia aquilo.
Jan Kazimierz viveu entre 1609 e 1675, época em que Portugal passou do domínio dos Filipes espanhóis à independência. Antes de ser rei, Jan Kazimierz teve um percurso um pouco atribulado. Entre algumas peripécias, em 1638 viajou até Espanha, pois preparava-se para aceitar o cargo de vice-rei de Portugal. Porque motivo nunca ouvimos falar dele? Porque os seus planos sairam furados e acabou por nunca o ser. Durante a viagem foi preso em França pelo cardeal Richelieu, acusado de ser um espião espanhol. Quase dois anos depois foi libertado graças à intervenção de um deputado do Sejm polaco e já não foi para Espanha (até porque entretanto o panorama em Portugal tinha-se alterado). Ou seja, por pouco ainda tínhamos um vice-rei polaco em Portugal!
A ver se no próximo sábado consigo ouvir novamente o programa para descobrir mais coisas interessantes.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Os polacos do ocidente falam melhor

Enquanto lia uns textos interessantes sobre a repatriação dos polacos no final da IIª Guerra Mundial, deparei-me com uma informação bastante curiosa. Parece que os habitantes da região ocidental da Polónia são os que falam polaco mais correctamente. Quem o diz é o professor Jan Miodek, importante linguista da Universidade de Szczecin.
Em 1944, os polacos que viviam na actual região da Lituânia, Bielorússia e Ucrânia (na altura territórios polacos) foram "convidados" a deixarem as suas terras e irem para a Polónia. Deu-se isto em consequência da Conferência de Teerão, na qual Stalin, Churchill e Roosevelt decidiram como seriam as novas fronteiras da Polónia após a guerra. Ou seja, os que viviam nos territórios orientais retirados à Polónia tiveram de ir para os territórios ocidentais, retirados à Alemanha.
Então, segundo dizem, a nata de Lvov e Vilnius, entre outras, passou a ocupar a região que foi "des-germanizada" e "polonizaram-na". Segundo estudos feitos nos anos 90, em Wrocław, Zielona Góra, Szczecin e Koszalin as pessoas falam usando uma linguagem literária, mais correcta que a da maioria dos polacos. Mas não é só aqui que se fala de maneira um pouco diferente. Contaram-me há tempos que as colónias de emigrantes polacos no Brasil, EUA e Canadá falam um polaco semelhante ao que se falava no séc. XIX ou início de séc. XX (na altura em que muitos polacos emigraram para o novo continente). Dizem que usam uma linguagem mais correcta, menos coloquial. Gostava muito de poder ver na prática estas diferenças, mas para já ainda não tive essa oportunidade.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A cidade coberta por um manto branco

Desde o início do ano (pelo menos desde dia 3, que foi quando regressei) a neve tem sido uma constante. Há dias em que neva muito, outros menos. O resultado disto são pilhas de neve por tudo quanto é sítio. Para mim é um espetáculo, adoro o tempo assim. É lindíssimo! No entanto, há dias alguém disse que há 20 anos não via tanta neve. Achei que seria um bocado exagero. Mas quando a minha sogra me mostrou o quintalzinho dela e disse que não se lembra da última vez que se formaram montes de neve como os que lá tem agora - e na sogra temos sempre de acreditar! - comecei a achar que isto afinal não é tão normal como eu pensava. Já passei cá vários Invernos e de facto se calhar nunca apanhei assim tanta neve. Já temperaturas tão baixas como as de Dezembro foi a primeira vez (no primeiro ano em que vim para cá apanhei um dia com -12ºC e foi uma excepção). E, claro, todos continuam a gozar com o aquecimento global...
No Domingo nevou tanto que algumas das principais ruas de Varsóvia estavam completamente brancas (refiro-me ao alcatrão mesmo). Numa rua, carros estacionados há vários dias tinham neve até quase meio da porta. Uma coisa incrível!... Mas giro que se farta. Nesse dia levámos a Teresa a andar de trenó pela primeira vez. Ao princípio gostou, mas depois quando começámos com ideias mais arrojadas, de deslizar por uma montanhinha, ela já não achou piada. Hoje voltei a ir com ela ao trenó, mas ela não estava de todo para ali virada. Aliás, nem na neve estava com vontade de andar. A reacção dela foi muito semelhante à que teve quando fomos à praia pela primeira vez e não queria estar na areia. E de facto em alguns aspectos a neve assemelha-se à areia da praia. Enfim, se fosse por mim, eu própria tinha rebolado na neve, descido as montanhinhas de trenó e feito mil e uma parvoíces. Mas a minha querida filha achou que aquilo não tinha grande piada e enquando não chegámos à entrada de casa (que não tinha neve nenhuma), não ficou contente.

Quando estivemos agora em Portugal, enquanto se discutia a eterna questão de voltarmos para lá, comecei a pensar no que é que havia cá que me fosse fazer realmente falta. E naquele momento, a primeira coisa em que pensei (até porque estávamos no friozinho invernoso) foi na neve. É verdade, acho que me vai fazer muita falta um Inverno sem neve. Nestes dias frios e curtos, a neve traz uma alegria e um alívio muito oportunos. Foi das melhores coisas que ganhei com vir para a Polónia.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Pianista

Durante a nossa estadia em Lisboa li o livro "O Pianista", que deu origem ao filme com o mesmo nome. Nunca tive coragem de ver o filme, pois achava que seria demasiado brutal e forte. A minha cunhada, que me emprestou o livro, preveniu-me logo que era intenso. Mas mesmo assim eu quis ler.
A história é contada na primeira pessoa. O pianista polaco Władysław Szpilman escreveu-o pouco tempo depois de terminar a Segunda Guerra Mundial. É a sua experiência pessoal, tudo aquilo por que passou. E, como já esperava, a história é impressionante. Não se trata de nenhum herói incrível da guerra, mas de um homem normal, como tantos outros, judeu, que lutou pela sua sobrevivência até ao limite. Só que ele, ao contrário de tantos, conseguiu sobreviver. Como refere o alemão que o encontra quase no fim da guerra, Deus quis que ele sobrevivesse. Depois de ler o livro, não consigo mesmo arranjar outra explicação para além desta.
Ontem decidi ver o filme; agora que já conhecia a história não haveria de causar tanto impacto. Apesar do excelente desempenho do actor principal (que até lhe valeu um oscar), devo dizer que fiquei desiludida. Normalmente isto acontece quando se lê um livro e depois vê o filme. Mas o que me irritou é que apresentavam muitos factos incorrectos, como por exemplo, certas situações que Szpilman observou apareciam no filme como tendo-lhe acontecido a ele. Enfim, não vou descrever todas as incoerências. Apenas queria dizer que o livro é incomparavelmente melhor que o filme (apesar do filme também ser bom... só não é lá muito verdadeiro).
Para mim, a leitura foi particularmente interessante pelo facto da história se passar em Varsóvia. Szpilman vai descrevendo locais, referindo ruas, cinemas, sítios que sei onde são! Fala do centro e de Mokotów, um bairro que conheço bem. Gostei também muito de ver um pouco como era a vida na cidade naquele tempo, antes e depois da guerra. Szpilman conta algo que eu já tinha ouvido dizer: que Varsóvia era uma cidade vaidosa, cosmopolita, elegante e com boa vida social. Depois, vai descrevendo a transformação gradual a partir do momento em que os nazis a ocupam. Como judeu que é, Szpilman vai seguindo as restrições que a pouco a pouco vão sendo impostas a esta comunidade. Mais tarde, já no gueto, mostra com grande realismo como se vivia ali. Algo que sempre me intrigou foi o facto de haver pessoas que viviam normalmente em Varsóvia durante estes anos mais terríveis. A partir da fuga do gueto, Szpilman aqui e ali vai deixando uns lamirés sobre isto. Ao descrever a sua situação e o que ia observando pela janela e dentro dos prédios, pode-se perceber um pouco como viviam os polacos "arianos", que podiam viver normalmente nas suas casas. Até ao momento em que começou a Insurreição de Varsóvia, quando todos (ou quase todos) fugiram. Szpilman mostra a verdade nua e crua, sem fantasias nem acusações, e conta como havia diferentes tipos de judeus no gueto, desde os que viviam como lordes no meio da miséria dos outros, até aos que colaboravam com os nazis e colaboraram na deportação e assassinato de muitos. Refere também a chegada de tropas de ucranianos e como estes eram sanguinários. Disto já tinha ouvido alguns polacos falar (até dizem: como é que se explica que nos territórios da Ucrância que pertenciam à Polónia não existe praticamente ninguém etnicamente polaco? Foi uma chacina desgraçada... Mas disto falarei noutra altura). O que não sabia é que também havia tropas lituanas que agiam da mesma maneira. Quereriam eles vingar-se dos polacos por estes possuírem terras que eles consideravam suas?
O que gostei neste livro é o estilo natural com que foi escrito. Não nos apresenta um ponto de vista histórico nem tendencioso. Aliás, quando foi publicado pela primeira vez, teve alguns pormenores alterados, como o facto de Szpilman ter sido ajudado por um alemão (na primeira edição aparecia austríaco). Depois, chegou mesmo a ser proibido pelos comunistas e só nas últimas décadas é que voltou a ser publicado, desta vez na versão original. Recomendo sinceramente, vale a pena ler.

Fotos: A primeira foi tirada em 1946 e a segunda em 1942, para o documento de identificação obrigatório durante a ocupação nazi.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Depois das festas

Já chegámos a casa depois de uma semana e meia em casa. Espera... há aqui alguma coisa que não bate certo...