domingo, 31 de janeiro de 2010

Vinhos portugueses na Biedronka

Ontem uns amigos disseram-nos que na Biedronka havia uma feira de vinhos portugueses até dia 8 de Fevereiro. Saltámos logo do nosso sofá e fomos lá ver se havia algo interessante. Encontrámos, de facto, vários vinhos e a preços bastante bons, tendo em conta os preços de outros supermercados. Trouxemos para casa Porta da Ravessa e mais uns quantos de que nunca tinha ouvido falar, da Beira e do Alentejo. Achei curioso todos eles terem a etiqueta atrás em polaco.
Adicionalmente, vimos também lá à venda pastéis de nata, mas desta vez em embalagens muuuuuito mais pequenas e com um preço totalmente injustificado. Por isso e porque há dias vi uma receita que me pareceu boa, decidimos não comprar. Qualquer dia experimento fazer em casa.

Continuo com uma imagem muito deprimente da Biedronka... Chão todo badalhoco (ok, com a temperatura a aumentar e a neve a derreter percebo que é difícil ter o chão limpo, mas há limites...), tudo caótico... enfim, fica-se mesmo sem vontade de lá voltar. Perguntei a esses amigos que nos falaram dos vinhos se a Biedronka deles também era assim. Disseram que felizmente não é suja como esta, o que me deu alguma esperança de encontrar um destes supermercados com um ar minimamente aceitável.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Arbeit macht frei

Mesmo sem a conhecida placa introdutória do campo de concentração de Auschwitz, comemoram-se hoje os 65 anos da libertação deste campo pelo Exército Vermelho.
No Outono de 1944, os nazis começaram a operação para encerrar Auschwitz, queimando ficheiros, destruindo provas (entre as quais fornos crematórios) e transferindo prisioneiros para campos de concentração na Alemanha. A 27 de Janeiro de 1945, quando o Exército Vermelho chegou, libertou apenas 8 mil prisioneiros, entre os quais 500 crianças, doentes e esfomeadas. Muitos apressaram-se a voltar a casa, outros ficaram em hospitais das redondezas e alguns acabaram por morrer de exaustão.
Hoje, em Auschwitz, vão estar mais de 150 s0breviventes a participar na comemoração do fim deste pesadelo. Entre eles estará Anna Stachowiak, na altura uma criança. Originária de Poznań, viu-se obrigada a fugir para Varsóvia com a mãe e os irmãos após o massacre de Katyń, onde o pai foi assassinado. Viveram numa casa em Ochota, de onde pouco saíam e quase não se afastavam. Anna tinha uns 6 anos e ia-se familiarizando com a guerra. Ouvia as conversas dos adultos e sabia o que podia ou não fazer. Nas ruas volta e meia os soldados nazis apanhavam pessoas para as levar para campos de concentração e tinham de ter cuidado com isso.
Durante a Insurreição de Varsóvia, como represália, os alemães prenderam muitos civis, entre os quais Anna e a família. Foram todos enviados para Auschwitz. À chegada foram separados; a mãe para um lado, o irmão para outro e Anna e a irmã para outro.
Auschwitz visto pelos olhos de uma criança é algo que impressiona. O testemunho desta senhora é incrível. Alguns meses depois, a mãe e o irmão partiram na chamada Marcha da Morte, parte do plano alemão para encerrar o campo antes da chegada dos russos. Dias depois, quando chegaram os soldados vermelhos, Anna e a irmã foram levadas para casa de uma prisioneira que morava nas redondezas, mas daí seguiram para o hospital de Cracóvia, tal era o seu estado. Aí permaneceram vários meses até ficarem bem. O que aconteceu depois não sei. Imagino que Anna tenha ido para a escola e tentado ter uma vida normal. Diz que durante anos não conseguia ouvir alguém falar alemão sem ficar afectada, até a nível de saúde. Agora, há já uns anos, conseguiu enfrentar os seus traumas e trabalha numa fundação que contacta com ex-prisioneiros de campos de concentração. E hoje vai lá estar, outra vez, a olhar para ao barracão onde passou tantos dias e tantas noites.
A mãe de Anna acabou por morrer na Alemanha, mas o irmão sobreviveu à guerra. Conseguiu estudar e arranjar trabalho. No entanto, o facto do pai ter morrido em Katyń prejudicou-o a nível profissional, pois os comunistas perseguiam todos os polacos patriotas, fossem membros da AK (resistência), familiares das vítimas de Katyń (afinal de contas, vítimas dos comunistas), membros da legião de Piłsudski, ou quaisquer outros que apoiassem a Polónia livre. O irmão de Anna acabou por não conseguir ter uma vida muito normal devido aos traumas que trouxe do tempo da guerra.

Esta é apenas uma de tantas e tantas histórias relacionadas com Auschwitz. Infelizmente a maioria delas não acaba tão bem como esta, tendo em conta que Anna e os irmãos sobreviveram. Lembro-me de ouvir contar na família do Staś de alguém que esteve num campo de concentração e que quando escrevia cartas à família não podia dizer que algo estava mal, então tinha de escrever com um certo código. Dizia que a comida era boa e coisas do estilo, que todos obviamente sabiam ser mentira. Certo dia, escreveu a perguntar como estava uma tal tia, pois tinha ouvido dizer que estava doente. Naquele momento a família percebeu que ele estava doente, pois não havia nenhuma tia com aquele nome (que, aliás, era o nome dele escrito no feminino). Felizmente foi libertado e voltou para junto da família. Dele ainda se guarda uma bolsinha que trouxe ao pescoço no campo de concentração, com relíquias de Santa Teresinha.

Hoje está frio e neva. Há 65 anos atrás, quando o Exército Vermelho entrou em Auschwitz, o dia também estava assim. Recordações tristes da história da Polónia e da Europa.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Séc. XVII: Jan Kazimierz em Portugal?

No sábado recebi um sms de alguém a dizer-me que na Antena 2 estava a dar um programa sobre música polaca. Já não era a primeira vez que recebia um sms daqueles, mas da outra vez não tinha tido oportunidade de ouvir. Desta vez, através da internet ligámos a Antena 2 e ouvimos. Ao que parece, é um ciclo de programas sobre a música polaca ao longo dos séculos. Neste programa que ouvimos particularmente interessante foi uma referência que fizeram ao rei polaco Jan Kazimierz. O Staś quando ouviu também ficou surpreendido, porque não sabia aquilo.
Jan Kazimierz viveu entre 1609 e 1675, época em que Portugal passou do domínio dos Filipes espanhóis à independência. Antes de ser rei, Jan Kazimierz teve um percurso um pouco atribulado. Entre algumas peripécias, em 1638 viajou até Espanha, pois preparava-se para aceitar o cargo de vice-rei de Portugal. Porque motivo nunca ouvimos falar dele? Porque os seus planos sairam furados e acabou por nunca o ser. Durante a viagem foi preso em França pelo cardeal Richelieu, acusado de ser um espião espanhol. Quase dois anos depois foi libertado graças à intervenção de um deputado do Sejm polaco e já não foi para Espanha (até porque entretanto o panorama em Portugal tinha-se alterado). Ou seja, por pouco ainda tínhamos um vice-rei polaco em Portugal!
A ver se no próximo sábado consigo ouvir novamente o programa para descobrir mais coisas interessantes.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Os polacos do ocidente falam melhor

Enquanto lia uns textos interessantes sobre a repatriação dos polacos no final da IIª Guerra Mundial, deparei-me com uma informação bastante curiosa. Parece que os habitantes da região ocidental da Polónia são os que falam polaco mais correctamente. Quem o diz é o professor Jan Miodek, importante linguista da Universidade de Szczecin.
Em 1944, os polacos que viviam na actual região da Lituânia, Bielorússia e Ucrânia (na altura territórios polacos) foram "convidados" a deixarem as suas terras e irem para a Polónia. Deu-se isto em consequência da Conferência de Teerão, na qual Stalin, Churchill e Roosevelt decidiram como seriam as novas fronteiras da Polónia após a guerra. Ou seja, os que viviam nos territórios orientais retirados à Polónia tiveram de ir para os territórios ocidentais, retirados à Alemanha.
Então, segundo dizem, a nata de Lvov e Vilnius, entre outras, passou a ocupar a região que foi "des-germanizada" e "polonizaram-na". Segundo estudos feitos nos anos 90, em Wrocław, Zielona Góra, Szczecin e Koszalin as pessoas falam usando uma linguagem literária, mais correcta que a da maioria dos polacos. Mas não é só aqui que se fala de maneira um pouco diferente. Contaram-me há tempos que as colónias de emigrantes polacos no Brasil, EUA e Canadá falam um polaco semelhante ao que se falava no séc. XIX ou início de séc. XX (na altura em que muitos polacos emigraram para o novo continente). Dizem que usam uma linguagem mais correcta, menos coloquial. Gostava muito de poder ver na prática estas diferenças, mas para já ainda não tive essa oportunidade.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

A cidade coberta por um manto branco

Desde o início do ano (pelo menos desde dia 3, que foi quando regressei) a neve tem sido uma constante. Há dias em que neva muito, outros menos. O resultado disto são pilhas de neve por tudo quanto é sítio. Para mim é um espetáculo, adoro o tempo assim. É lindíssimo! No entanto, há dias alguém disse que há 20 anos não via tanta neve. Achei que seria um bocado exagero. Mas quando a minha sogra me mostrou o quintalzinho dela e disse que não se lembra da última vez que se formaram montes de neve como os que lá tem agora - e na sogra temos sempre de acreditar! - comecei a achar que isto afinal não é tão normal como eu pensava. Já passei cá vários Invernos e de facto se calhar nunca apanhei assim tanta neve. Já temperaturas tão baixas como as de Dezembro foi a primeira vez (no primeiro ano em que vim para cá apanhei um dia com -12ºC e foi uma excepção). E, claro, todos continuam a gozar com o aquecimento global...
No Domingo nevou tanto que algumas das principais ruas de Varsóvia estavam completamente brancas (refiro-me ao alcatrão mesmo). Numa rua, carros estacionados há vários dias tinham neve até quase meio da porta. Uma coisa incrível!... Mas giro que se farta. Nesse dia levámos a Teresa a andar de trenó pela primeira vez. Ao princípio gostou, mas depois quando começámos com ideias mais arrojadas, de deslizar por uma montanhinha, ela já não achou piada. Hoje voltei a ir com ela ao trenó, mas ela não estava de todo para ali virada. Aliás, nem na neve estava com vontade de andar. A reacção dela foi muito semelhante à que teve quando fomos à praia pela primeira vez e não queria estar na areia. E de facto em alguns aspectos a neve assemelha-se à areia da praia. Enfim, se fosse por mim, eu própria tinha rebolado na neve, descido as montanhinhas de trenó e feito mil e uma parvoíces. Mas a minha querida filha achou que aquilo não tinha grande piada e enquando não chegámos à entrada de casa (que não tinha neve nenhuma), não ficou contente.

Quando estivemos agora em Portugal, enquanto se discutia a eterna questão de voltarmos para lá, comecei a pensar no que é que havia cá que me fosse fazer realmente falta. E naquele momento, a primeira coisa em que pensei (até porque estávamos no friozinho invernoso) foi na neve. É verdade, acho que me vai fazer muita falta um Inverno sem neve. Nestes dias frios e curtos, a neve traz uma alegria e um alívio muito oportunos. Foi das melhores coisas que ganhei com vir para a Polónia.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

O Pianista

Durante a nossa estadia em Lisboa li o livro "O Pianista", que deu origem ao filme com o mesmo nome. Nunca tive coragem de ver o filme, pois achava que seria demasiado brutal e forte. A minha cunhada, que me emprestou o livro, preveniu-me logo que era intenso. Mas mesmo assim eu quis ler.
A história é contada na primeira pessoa. O pianista polaco Władysław Szpilman escreveu-o pouco tempo depois de terminar a Segunda Guerra Mundial. É a sua experiência pessoal, tudo aquilo por que passou. E, como já esperava, a história é impressionante. Não se trata de nenhum herói incrível da guerra, mas de um homem normal, como tantos outros, judeu, que lutou pela sua sobrevivência até ao limite. Só que ele, ao contrário de tantos, conseguiu sobreviver. Como refere o alemão que o encontra quase no fim da guerra, Deus quis que ele sobrevivesse. Depois de ler o livro, não consigo mesmo arranjar outra explicação para além desta.
Ontem decidi ver o filme; agora que já conhecia a história não haveria de causar tanto impacto. Apesar do excelente desempenho do actor principal (que até lhe valeu um oscar), devo dizer que fiquei desiludida. Normalmente isto acontece quando se lê um livro e depois vê o filme. Mas o que me irritou é que apresentavam muitos factos incorrectos, como por exemplo, certas situações que Szpilman observou apareciam no filme como tendo-lhe acontecido a ele. Enfim, não vou descrever todas as incoerências. Apenas queria dizer que o livro é incomparavelmente melhor que o filme (apesar do filme também ser bom... só não é lá muito verdadeiro).
Para mim, a leitura foi particularmente interessante pelo facto da história se passar em Varsóvia. Szpilman vai descrevendo locais, referindo ruas, cinemas, sítios que sei onde são! Fala do centro e de Mokotów, um bairro que conheço bem. Gostei também muito de ver um pouco como era a vida na cidade naquele tempo, antes e depois da guerra. Szpilman conta algo que eu já tinha ouvido dizer: que Varsóvia era uma cidade vaidosa, cosmopolita, elegante e com boa vida social. Depois, vai descrevendo a transformação gradual a partir do momento em que os nazis a ocupam. Como judeu que é, Szpilman vai seguindo as restrições que a pouco a pouco vão sendo impostas a esta comunidade. Mais tarde, já no gueto, mostra com grande realismo como se vivia ali. Algo que sempre me intrigou foi o facto de haver pessoas que viviam normalmente em Varsóvia durante estes anos mais terríveis. A partir da fuga do gueto, Szpilman aqui e ali vai deixando uns lamirés sobre isto. Ao descrever a sua situação e o que ia observando pela janela e dentro dos prédios, pode-se perceber um pouco como viviam os polacos "arianos", que podiam viver normalmente nas suas casas. Até ao momento em que começou a Insurreição de Varsóvia, quando todos (ou quase todos) fugiram. Szpilman mostra a verdade nua e crua, sem fantasias nem acusações, e conta como havia diferentes tipos de judeus no gueto, desde os que viviam como lordes no meio da miséria dos outros, até aos que colaboravam com os nazis e colaboraram na deportação e assassinato de muitos. Refere também a chegada de tropas de ucranianos e como estes eram sanguinários. Disto já tinha ouvido alguns polacos falar (até dizem: como é que se explica que nos territórios da Ucrância que pertenciam à Polónia não existe praticamente ninguém etnicamente polaco? Foi uma chacina desgraçada... Mas disto falarei noutra altura). O que não sabia é que também havia tropas lituanas que agiam da mesma maneira. Quereriam eles vingar-se dos polacos por estes possuírem terras que eles consideravam suas?
O que gostei neste livro é o estilo natural com que foi escrito. Não nos apresenta um ponto de vista histórico nem tendencioso. Aliás, quando foi publicado pela primeira vez, teve alguns pormenores alterados, como o facto de Szpilman ter sido ajudado por um alemão (na primeira edição aparecia austríaco). Depois, chegou mesmo a ser proibido pelos comunistas e só nas últimas décadas é que voltou a ser publicado, desta vez na versão original. Recomendo sinceramente, vale a pena ler.

Fotos: A primeira foi tirada em 1946 e a segunda em 1942, para o documento de identificação obrigatório durante a ocupação nazi.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Depois das festas

Já chegámos a casa depois de uma semana e meia em casa. Espera... há aqui alguma coisa que não bate certo...