quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O que falta na mesa dos polacos

Há certos hábitos alimentares que nunca me tinha apercebido que eram típicos de Portugal (ou dos povos do sul da Europa, em geral) até ter vindo parar à Polónia. Um desses hábitos é o ter uma salada com alface, tomate e mais qualquer coisa a acompanhar uma refeição. Quando vamos almoçar ou jantar a casa de um polaco, geralmente os acompanhamentos ou são batata cozida, ou alguns legumes cozidos (bróculos, etc). Actualmente, por influência estrangeira, já se começam a ver também aqui e ali saladas gregas (o queijo feta deve estar na moda em toda a parte). Mas aquilo que me continua a surpreender já há 4 anos (!) é que de cada vez que faço uma salada com várias coisas frescas, os polacos ficam maravilhados e fartam-se de a elogiar. Para mim é a coisa mais básica do mundo, para eles é algo que foge dos padrões alimentares. Imagino que o facto de haver poucos alimentos frescos (refiro-me a legumes, claro) na mesa seja uma herança do passado, quando não havia frigoríficos ou forma de obter verduras com tanta facilidade como agora. Quem diria que uma simples salada pode tornar-se em algo tipicamente português?

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Champions Clerum 2011

Não podia deixar de falar aqui no maior evento desportivo da actualidade. Qual Euro 2012, a Polónia está neste momento a acolher o Campeonato Europeu de Futsal de... Padres!!!! O Champions Clerum está a decorrer em Kielce e, para já, a equipa portuguesa não está nada mal! Já ganhou cinco jogos e agora está nas meias-finais, onde vai jogar com a Polónia. Amanhã vai ser o dia em que ficamos a saber quem é o campeão desta edição do Champions Clerum. Daquilo que vi, este torneio não é nada mau. Para além dos jogos, os padres têm direito a passeios turísticos e pequenas peregrinações durante a estadia na Polónia. No último campeonato, realizado em Portugal, perdemos na final com a Polónia. Será que desta vez passamos das meias-finais? Força Portugal!!

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Monika

Recebi ontem no correio uns livrinhos que traduzi para uma editora polaca, ilustrados pelo Maurício de Souza, com as personagens da Turma da Mônica. Não foi um trabalho nada fácil, pois os livros (feitos para o mercado brasileiro) partem do princípio que toda a gente sabe quem é o Cascão, a Magali e o Cebolinha, entre outros. Como apresentar isto a crianças polacas que, provavelmente, nunca leram um livro de quadradinhos da Mônica? O trabalho lá foi feito, com algum custo, e por fim ontem vi o resultado final. Confesso que me fez alguma confusão numa das ilustrações ver o pai do Cascão a falar em polaco...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Estamos sempre a aprender

Ontem deixei uma garrafa pequena de água no carro durante mais ou menos uma hora. Quando vim para casa, trouxe-a para cima e uma meia hora depois, sem prestar muita atenção, deitei um bocado num copo e levei à boca. Foi então que os meus dentes se queixaram à grande. É que na rua estavam -10º e a água lá dentro deve ter congelado um bocado... Eu, claro está, nada habituada a estas coisas (mesmo ao fim de 4 anos há hábitos que custam a entrar), ainda tenho estes momentos de distração.
É isso e a condução na neve. Há dias fiz duas pequenas "alarvidades" na neve, que o Stas quase saltou da cadeira. Eu, claro, não vi perigo nenhum nessas situações (até porque não houve perigo real). A questão é que quando a estrada está coberta de neve tem de se ter precauções especiais que, como é óbvio, não nos ensinam em Portugal quando tiramos a carta. Realmente estamos sempre a aprender.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Notícia do Dia

O projecto do novo estádio da equipa de futebol polaca Polonia de Varsóvia vai ser feito por Tomás Taveira. E esta, hein?

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Mas que ideia!

Ontem o Stas teve a feliz ideia de ir lavar o carro depois do almoço. Já há dias andava a reclamar que o carro estava um nojo. Até aqui tudo bem, não estivessem ontem -7ºC... Quando saiu do trabalho não conseguia abrir as portas do carro, porque tinham congelado... Resultado: ficou ali não sei quanto tempo a tentar resolver a situação e teve a sorte dos pais morarem perto e lhe irem lá levar um líquido que ajuda a resolver estas coisas. Para o que lhe havia de dar!

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

As mães polacas

No que diz respeito à maternidade, na Polónia há uma mentalidade um pouco diferente de Portugal. Apesar de haver que pense e promova o contrário (artigos em revistas, etc), as mulheres polacas, quando têm possibilidade, não se importam de sacrificar um pouco a carreira para serem mães. Há alguns médicos que, mal a mulher engravida, dão-lhe logo baixa e recomendam passar a gravidez tranquilamente, sem trabalhar (conheço vários casos destes). Para além disso, depois da licença normal de maternidade após o parto (que é igual a Portugal), há quem tire uma "licença de educação", que é uma espécie de licença sem vencimento até a criança fazer 3 anos (e depois tb até aos 6, parece-me). Depois destas licenças todas, quando a mulher regressa ao trabalho, há uma lei que diz que não pode ser despedida durante os próximos 6 meses ou 1 ano (já não me lembro exactamente). De todos os casais nossos amigos que têm filhos, só conheço uma mulher que voltou ao trabalho "logo" depois da filha nascer - e isto foi quando a filha tinha quase um ano! De resto, são todas mães a tempo inteiro. - Aliás, esta que regressou "logo" ao trabalho começou primeiro por trabalhar a partir de casa (a empresa aceitou esta solução) e só mais tarde voltou ao escritório.
Quando comecei a ir com a Teresa às aulas dela uma vez por semana, reparei que a maioria das crianças estavam ali com as mães. Claro que há um ou outro caso de uma avó que vai com um neto. O mais curioso é que estas crianças têm todas 3 ou quase 3 anos! Algumas mães têm ainda filhos mais pequenos e imagino que estejam a desfrutar da licença de maternidade desses pequenos. Outras não têm mais filhos e simplesmente não trabalham. É algo que para mim, com a minha mentalidade portuguesa, me fez alguma impressão, pois estou habituada a que as mulheres, mal a criança faça 4 ou 5 meses, vão logo trabalhar. Afinal, aqui há muita boa gente que não faz nada disso. E não é por serem ricos, porque não são. Penso que estas mulheres têm a sensibilidade de perceber que as crianças pequenas ficam melhor em casa com as mães do que numa creche fria e impessoal.
Um aspecto que imagino que ajude é o facto dos polacos terem recebido uma educação em que se valorizava muito o poupar (por causa dos tempos difíceis do comunismo). Digo isto porque noto como, por exempol, às vezes as polacas conseguem criar refeições a partir de coisas com as quais eu nunca seria capaz de o fazer. Não porque sejam más, nada disso! Simplesmente nunca tive necessidade de poupar nos ingredientes. Às vezes em casa de alguém decide-se improvisar algo para comer e eu olho para o frigorífico e fico em branco. As polacas pegam logo nisto e naquilo, e em poucos minutos preparam um jantar! Aproveitam tudo (ou quase tudo) e nesse aspecto têm mais imaginação do que eu.
Isto para dizer que as minhas amigas que estão em casa com os filhos sabem gerir bem a economia doméstica. Quem fala na comida, fala também em vários outros aspectos do dia-a-dia. Admiro muito esta capacidade dos polacos.
Será que estas mulheres por estarem em casa dos filhos e fazerem uma pausa nas carreiras durante uns tempos se sentem frustradas com isso? Daquilo que tenho visto, não. Para elas, investir num filho é mais importante do que investir na carreira, mesmo com todos os sacrifícios que isso possa trazer. Neste aspecto, graças a Deus que agora estamos na Polónia, porque se estivessemos a viver em Portugal, seria impossível estar em casa com a Teresa.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Kumoterkas, skiring e ski-skiring

Há dias, por motivos profissionais, fiquei a saber o que são kumoterkas. Trata-se de um desporto que é praticado nas montanhas todos os anos na altura do Carnaval (o Carnaval na Polónia vai desde o fim da época do Natal até ao último Domingo antes da Quarta-feira de Cinzas). Consiste em equipas formadas por duas pessoas (geralmente um casal, mas pode também não ser) em que uma monta um cavalo e a outra fica num trenó puxado pelo cavalo. Como isto é uma corrida, o que vai a cavalo vai acelerando para chegar o mais rápido possível à meta, enquanto que o de trás vai balançando o corpo para manter o trenó equilibrado e os dois no caminho certo. Existem ainda outros desportos, chamados Skiring e Ski-skiring, que consistem em algo muito parecido às kumoterkas, mas a pessoa de trás está apoiada em esquis. Nunca vi isto ao vivo, mas deve ter piada. E participar ainda mais piada deve ter.
(não escrevo mais sobre o tema, porque esta semana ando atrapalhada com trabalho... vamos lá ver se vou conseguir 
actualizar o blog com a frequência desejada)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Royal Mail

Ontem recebi uma carta do Club Card, o programa de pontos dos hipermercados Tesco. Normalmente umas duas ou três vezes por ano enviam cupões de desconto para alguns produtos. Até aqui tudo normal. Não fosse no lugar do selo haver um sinal a dizer: Royal Mail. Olhámos para o lugar do remetente e vimos: Tesco Clubcard, Unit 4, Heathrow Causeway Estate, Hounslow, Middlesex, TW4 6JW, UK. Quem diria que o Tesco prepara e envia as cartas para a Polónia de Inglaterra?? Sempre pensei que era mais barato fazer estas coisas a partir da Polónia. Aliás, eu própria a nível profissional já tive de trabalhar com empresas polacas que são prestadores de serviços para empresas dos EUA e do Japão, simplesmente porque na Polónia o custo de mão de obra não é muito elevado. Mas pelos vistos o Tesco anda bem de massas.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

As aulas de desenvolvimento geral

Como já tinha prometido antes, hoje vou escrever sobre as aulas a que a Teresa vai uma vez por semana. São chamadas aulas de "desenvolvimento geral" e destinam-se a crianças desde um ano e meio até aos 3 anos. No nosso grupo há crianças desde os 2 e quase meio até aos 3. Ao princípio, todas as mães estavam presentes na sala com as crianças; agora, só algumas é que ainda estão. A ideia é habituar a criança a estar sozinha, para não estranhar quando for para a escola. O esquema das aulas é simples: na primeira parte cantam-se umas músicas que são iguais todas as semanas (todas as crianças já as sabem de cor e para eles tem piada, é aquele ponto fixo das aulas), depois a professora ensina umas rimas ou alguma canção nova. Geralmente são brincadeiras de roda. Depois disso fazem um comboio e cantam uma música (sempre a mesma), enquanto se dirigem para outra sala onde fazem trabalhos plásticos. Às vezes são pinturas, outras vezes colagens, mas todas as semanas é algo diferente. Esta semana, as crianças decoraram coroas, que a professora no fim armou à medida da cabeça de cada um. Depois disso, na parte seguinte da aula, as crianças estiveram a brincar e dançar com as coroas na cabeça e divertiram-se muito. Nesta última parte da aula geralmente há jogos com música, às vezes brincadeiras com instrumentos musicais, outras vezes ainda actividades que desenvolvem diferentes aspectos da criança (por exemplo, coisas minuciosas que a criança tem de fazer com jeitinho com os dedos, jogos de memória, desenvolvimento dos músculos da cara - soprar, etc). No fim, toca uma música relaxante e cada mãe massaja o seu filho com uma bola própria de massagens. A criança fica ali a relaxar, às vezes querem ser eles a massajar as mães. Quando acaba a música, cantam uma canção de despedida e a professora carimba na mão direira de cada um um animal (que todas as semanas é diferente e também de cor diferente). Eles adoram!
O nosso balanço dos meses em que lá andamos (desde o início Outubro, parece-me) é muito positivo. A Teresa adora, até porque antes e depois da aula pode brincar à vontade na zona de brincadeira livre. Eu também não me posso queixar, tem imensa piada assistir às aulas e ver também o desenvolvimento de todas aquelas crianças ao longo dos meses. Para além disso, as mães entre si também vão criando laços e aproveitam enquanto os filhos estão entretidos para "bater um papo". Em suma, é um dos dias preferidos da nossa semana!

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Um toque de Primavera em nossa casa...

... mesmo sendo as flores de plástico, já dão alguma cor e vida ao local.

Será que a Primavera vem mais cedo?

Alô alô, daqui Polónia. Já sem neve, com algum sol e temperaturas entre os 5º e os 10º. Já sem botas quentes, mas com mocassins ou sapatos de vela. Já sem kispos quentes, mas com agradáveis sobretudos.

Este fim-de-semana fartei-me de andar de carro, sobretudo por estradas secundárias. O balanço do Inverno é muito negativo. Apanhei buracos atrás de buracos, algumas estradas tinham autênticas crateras, foi uma sorte não ter caído em nenhuma. Até um bocado de estrada que tinha sido arranjado no ano passado já está outra vez esburacado. A neve tem destas coisas, sobretudo quando muitas destas estradas foram mal e porcamente construídas pelos comunistas com materiais manhosos. A solução para as arranjar de vez era destruir tudo e construir de raíz uma estrada a sério. Mas isso agora...

sábado, 5 de fevereiro de 2011

A planície dos vendavais

Esta noite a Teresa acordou a chorar, como já há muito tempo não fazia. Fez xixi na fralda a dormir e ficou tão em stress por não ter conseguido fazer na casa-de-banho que começou a gritar, de forma aflitiva: Mamã! Ajuda! Depois de se ter acalmado, descobri que estava com fome, então vim preparar-lhe uma papa. Quando estavávamos as duas na penumbra da sala, a Teresa começou a ouvir o vento na rua. Ontem e hoje tem estado muito vento. Como vi que ela estava a ficar assustada com o barulho, comecei a desdramatizar. A certa altura, ela ia dizendo: O vento tá cansado, quer ir ao óó. Quando cheguei com ela à sala, o céu na rua estava todo azul escuro, mas passado poucos minutos já estava cheio de nuvens. O vento estava mesmo fortíssimo! Agora de manhã continua a fazer um barulhão desgraçado. Este fim-de-semana vai ser porreiro...

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Como conservar alimentos frescos durante o Inverno - versão séc. XIX

Contou-me a minha sogra há dias como no passado os polacos conseguiam ter alimentos frescos no Inverno. Se hoje nos supermercados em qualquer época do ano podemos comprar laranjas, laranjas vermelhas, tangerinas, ananazes e outros que tais, nos passado não foi de todo assim.
No campo, as pessoas tinham uma técnica para guardar cenouras, batatas e outros legumes para comerem durante o tempo frio. Faziam uma espécie de arrecadação ao ar livre, coberta por uma camada muito espessa de terra (suficientemente espessa para os animais não chegarem lá, nem a neve queimar os alimentos). De cada vez que precisavam de comer, escavavam nesse monte de terra, tiravam o que necessitavam e voltavam a cobrir. Mesmo assim, a alimentação no Inverno era sempre um pouco deficiente. Para combater doenças várias, surgiram as técnicas de fermentação de couve, que se tornou numa rica fonte de vitamina C para os polacos. Para além disso fermentavam-se também outros alimentos, como o pepino. Estes alimentos ainda hoje fazem parte da dieta de cá. Há pessoas que fazem isto em casa e depois durante o Inverno têm para consumir. Eu, muito sinceramente, não gosto lá muito destes alimentos fermentados, pelo simples motivo de que são todos muito ácidos. A couve, em algumas situações já consigo comer, quando não tem sabor muito forte.
Um alimento que oucupa, ainda hoje, um lugar importante na dieta dos polacos são as batatas. Geralmente comem-se cozidas, apesar de haver ainda outras formas de as cozinhar (como panquecas ou como uma espécie de gnocchi, entre outras). Nós, em nossa casa, raramente comemos batatas, até porque para mim batata cozida é acompanhamento para peixe.

Cepeliny - uma espécie de pierogi, mas com a massa feita à base de batatas cozidas e cruas; recheado com carnes diversas e cozido em água quente.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

A religiosidade dos polacos

No que diz respeito à sua religiosidade, a Polónia é um país com aspectos interessantes.

1. Tendo-se convertido ao catolicismo bastante cedo e lutado com garra por ele (pode-se dizer que, graças aos polacos, a Europa não é muçulmana), foi no entanto um país tolerante, que desafiou o Santo Ofício ao receber judeus fugidos de todas as partes da Europa. Isto fez com que a população judia na Polónia fosse, de facto, muito numerosa. Para além disso, na zona oriental da Polónia há também um grande número de pessoas que praticam o cristianismo Ortodoxo, sendo possível encontrar em diversas cidades e vilas templos desta religião (que são lindíssimos). A propósito disto, tenho uma amiga que é de uma cidade nessa zona oriental da Polónia (chamada Podláquia), onde se celebravam tanto os feriados católicos, como os ortodoxos. Certa vez, a falar com o seu futuro marido (que era de outra cidade, mais perto de Varsóvia), percebeu que ele não celebrava as festas ortodoxas e ficou horrorizada. Só depois percebeu que, em geral, na Polónia não se celebram esses feriados, apena nas zonas onde há grande população ortodoxa (precisamente onde ela cresceu).

2. Durante os tempos da Cortina de Ferro, nos países dominados pelo comunismo havia muitas restrições à vida religiosa. Excepcionalmente, a Polónia era o único país onde era permitido ir à Missa e participar em práticas religiosas. Em países como a Checoslováquia isso não era possível e de tal modo quiseram destruir a religião, que hoje em dia mais de 90% dos checos se consideram ateus. O meu primeiro professor de polaco contava que, durante a Guerra Fria, foi uma vez com uns amigos a um dos países comunistas (seria a Hungria?) e no Domingo quiseram ir à Missa. À porta da igreja encontraram soldados que lhes pediram identificação. Ao verem que eram polacos, deixaram-nos entrar. No entanto, não muito longe deles ia um grupo de raparigas jovens que tinha o mesmo plano. À entrada do templo foram barradas e não as deixaram entrar. Para além dos polacos, só deixaram entrar pessoas idosas. Na Polónia não era assim, de todo. O que não significa que não houve perseguições; muitos padres foram assassinados e o Cardeal Wyszynski (Primaz da Polónia) esteve vários anos preso, porque não queria colaborar com o regime*. Ou seja, havia liberdade até certo ponto. Lembro-me aqui de um episódio de uma réplica do ícone da Virgem Negra de Czestochowa que andava a circular por vários locais; uma espécie de peregrinação da imagem. Os comunistas não acharam piada e confiscaram o quadro. As pessoas não gostaram e resolveram continuar a fazer o mesmo, mas com a moldura, que eles tinham deixado para trás.

3. Apesar dos comunistas permitirem o culto religioso, não gostavam da ideia de se construírem igrejas novas. Um exemplo clássico disto é a igreja de Nowa Huta, um bairro operário construído em Cracóvia, no tempo de Karol Wojtyla. Os comunistas fizeram-no um "bairro exemplo" e, como tal, não tinha igreja. As pessoas não acharam piada e resolveram construir a igreja com as suas próprias mãos. Durante meses, à noite, começavam a colocar os fundamentos e de manhã chegavam as milicias e destruíam tudo. Foi um longo jogo de persistência até que os comunistas se renderam ao facto de que ali teria de haver uma igreja. Mas isto não aconteceu apenas em Nowa Huta. Em Ursynów, onde moro, também há histórias destas, sendo a mais impactante a da antiga paróquia do Stas, onde a Teresa foi baptizada. Mas isto hei-de contar noutro post.

4. Como a Polónia foi um país muitas vezes atacado - e até dominado - pela Rússia, ou Prússia, por estes serem países de religiões diferentes e que nem sempre se mostravam tolerantes ao catolicismo, a fé dos polacos foi muito associada ao patriotismo, pois os invasores roubavam-lhes a pátria e a religião. E o que acontece quando as pessoas são atacadas ou perseguidas? A sua fé torna-se mais forte, daí que a Polónia seja conhecida por ser um dos países mais católicos da Europa (apesar da tendência parecer estar a inverter. Agora que não há comunismo, há várias pessoas que professam os seus ideais e, por isso, são anti-igreja).

___________
* Quanto foi preciso nomear um bispo para Cracóvia, o governo pediu ao Cardeal que lhe entregasse uma lista com os padres que achavam bons para aquele cargo, postos por ordem de importância. Sabendo como o governo agia, o Cardeal resolveu escrever no fim da lista o nome de Karol Wojtyla, sendo que era esse que ele queria para ocupar esse cargo. Os comunistas, achando que o Cardeal não gostava dele, disseram que era aquele que devia ser nomeado bispo. O Cardeal fez cara de poucos amigos, mas fingiu estar a obedecer às ordens. Mais tarde, durante o tempo de episcopado de Karol Wojtyla em Cracóvia, o governo procurou sempre semar a discórdia entre ele e o Cardeal Wyszynski e passar a falsa imagem de que eles se odiavam. O que não era verdade.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

A lenda do Pato Dourado

Há muitos, muitos anos, numa cidade chamada Varsóvia, vivia um rapaz, aprendiz de sapateiro, que gostava de se divertir. Certo dia, ouviu alguém falar num grande tesouro que estaria escondido por baixo de um dos palácios de Varsóvia e era guardado por um pato dourado. Quem encontrasse o tesouro, ficaria com ele todo para si. Motivado pela ganância, o rapaz decidiu ir à procura do tal pato dourado. Quando chegou ao palácio, desceu para a cave e começou a procurar o animal. Ao fim de algum tempo, entrou numa sala toda iluminada pelo brilho do ouro que nela se encontrava! Tinha no meio um lago onde estava um pato dourado, com lindíssimas penas. O rapaz aproximou-se e o pato disse-lhe algo extraordinário: todo aquele tesouro seria para si! Antes, porém, deveria passar uma prova. O pato deu-lhe uma bolsa com 100 ducados e disse que, durante um dia, teria de gastar todo aquele dinheiro exclusivamente em coisas para si; não podia partilhar o dinheiro com ninguém. O rapaz partiu todo contente e no dia seguinte de manhã foi às compras. Arranjou roupas boas, comprou um cavalo e foi gastando tudo o que podia. A certa altura já não sabia em que mais haveria de o gastar, pois naquela época esta era uma quantia bastante elevada. Quando o dia já estava a terminar, passou pelo rapaz um velho mendigo. Era um antigo soldado, condecorado pelos seus esforços na guerra, mas que tinha ficado inválido e vivia do que lhe davam. Já não comia há alguns dias e pediu que lhe desse algo para poder matar a fome. Ao ver o seu sofrimento, o rapaz deu-lhe umas moedas. Nesse instante, apareceu junto dele o pato dourado. Por não ter cumprido o acordo e ter dado dinheiro a outra pessoa, o pato retirou-lhe tudo o que tinha comprado com aquele dinheiro e depois desapareceu. O rapaz ficou triste, sem saber o que fazer. Então, o mendigo disse-lhe: "O dinheiro só tem valor pelo esforço que nele investimos; o que recebemos de graça não há-de levar-nos por bom caminho". O rapaz aprendeu que a lógica proposta pelo pato dourado não era a melhor. Depois disto, voltou à sua vida de sapateiro e esforçou-se por ser cada vez melhor. Ao fim de uns tempos, chegou a mestre de sapateiro, conheceu uma linda rapariga, casaram-se e viveram felizes para sempre.

A fonte com a estátua do pato dourado, na rua Tamka, em Varsóvia

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Boa educação

No Domingo, quando estávamos a sair de casa, passou por nós um dos seguranças do condomínio e, como sempre, cumprimentou-nos (e nós a ele, claro está). O mais interessante disto é que o senhor quando se dirigiu a mim tirou o chapéu. São ainda restos da boa educação clássica dos polacos, que é das melhores coisas que eles têm. Se querem falar de cavalheirismo, chamem um polaco! :)

PS - Isto lembra-me sempre uma clássica, uma vez quando estávamos em Lisboa e a Maria teria na altura uns 4 anos. Íamos sair e, como qualquer polaco, o Stas preparou-se para ajudar as mulheres presentes a vestir os casacos. De repente, pegou no sobretudo da Maria e agarrou-o de forma a ela enfiar lá os braços. Ora, a pequenota não percebia nada do que é ele estava para ali a fazer e tirou-lhe o casaco toda zangada, dizendo algo como: "Dá cá o meu casaco!!". Polaco sofre! :D