sexta-feira, 28 de junho de 2013

O fim do ano escolar

Hoje é o último dia de aulas nas escolas, infantários e creches. Seguem-se dois meses de intervalo (os infantários e creches públicos retomam em Agosto) e no dia 1 de Setembro lá estão as crianças todas de volta. Ontem e hoje as escolas fizeram as suas cerimónias de encerramento do ano, com entrega de diplomas, certificados, avaliações, etc. Cá na Polónia isto é algo que se leva a sério: as crianças vestem-se a rigor e a cerimónia é realizada muitas vezes com a presença de familiares.
Nós ontem tivemos a nossa no infantário. A T. estava com o seu melhor vestido e fez uma pequena representação com os colegas, antes de receber um diploma simbólico. No fim disto tudo, tivemos um pequeno ritual de agradecimentos e entrega de presentes à directora, educadoras, auxiliares, etc. E era precisamente disto que eu queria falar hoje.
Quando eu era pequena, lembro-me de ver em livros de banda desenhada os alunos levarem uma maçã à professora (o clássico era o Chico Bento). Aqui não se dão maçãs, mas há a mania de no fim do ano se dar algum presente aos professores e outros trabalhadores da escola. Alguns pais dão àquele ou àquela com quem a criança ou eles próprios tiveram melhor contacto, mas também acontece dar-se a todos indiscriminadamente. No nosso infantário, pelo menos neste dois anos em que lá temos estado, tem-se feito uma recolha de fundos entre os pais para comprar presentes para o pessoal. Claro que tudo o que envolve recolha de dinheiro dá confusão, por isso acabei por ouvir opiniões muito diferentes sobre esta questão. Mas nenhuma contra o acto em si de oferecer algo.
Em geral, todos estão mentalizados que tem de se dar presentes e nem questionam isso. Só houve uma pessoa com quem falei que, como eu, acha que é um exagero ter de se dar presentes a todos no fim do ano. Porque, se formos a pensar em todas as outras profissões, ninguém recebe presentes no final do ano por ter feito o seu trabalho (bem, há casos em que se recebem comissões ou prémios em dinheiro, mas isso é outra história). Percebo o simbolismo da questão, mas penso que se poderia resolver isto comprando pequenas coisas simbólicas, sem ter de gastar uma pipa de massa (ou mesmo não comprando nada!!). No caso do nosso infantário, este ano foi o descalabro e gastou-se imenso (porque teve de se comprar para várias pessoas e à última da hora afinal ainda para mais duas...). Por minha parte, eu também tomo conta de duas crianças várias horas por dia e a mim ninguém me da presentes! Vou ver se começo a negociar aqui em casa. ;)

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Agnieszka ou Marysia?

Há quem diga que todas as polacas são Agnieszkas ou Marysias. De facto, estes são os nomes femininos mais populares. Se Marysia (diminutivo de Maria) continua ainda hoje a ser um dos nomes mais dados às filhas, Agnieszka (Inês) já não tanto. Deve é ter sido o grande nome da moda na década de 70 e 80, pois onde quer que eu vá, há uma Agnieszka. A lista de contactos do meu telefone está cheia delas (e aquelas de quem não tenho o número, mas com quem me cruzo diariamente??). E a confusão que é para sabermos de quem estamos a falar? A partir de certa altura já só vamos lá evitando o primeiro nome e referindo-nos a elas pelo apelido. É que são mesmo mais que as mães!!

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O nosso peixe era transexual

Durante 9 meses tivemos um peixe. Foi o presente de onomástico da T. Ela nunca lhe ligou grande coisa e de facto ele era apenas um elemento decorativo na nossa casa. Só que nos deu volta e meia dores de cabeça quando tivemos de viajar e deixá-lo com alguém durante esse tempo.
Apesar de ser um animal que não interage grande coisa, este peixe foi motivo de grande baralhação linguística. Tudo isto porque em português a palavra peixe é masculina e em polaco é... feminina! Então, eu que me referia sempre a ELE, tinha de ouvir os outros a chamarem-lhe sempre ELA. Na realidade era um macho, mas mesmo assim era... ela! Era estranhíssimo ele ser o tempo todo tratado como se fosse uma fêmea.
De qualquer maneira, ao fim de 9 meses de confusão de género, o nosso peixinho decidiu ir desta para uma melhor e lá foi pelo cano abaixo...


terça-feira, 25 de junho de 2013

Exemplo na Wikipédia

Por motivos de trabalho, tive de consultar esta página na Wikipédia. Achei curioso a imagem que dão como exemplo na versão portuguesa. :)

segunda-feira, 24 de junho de 2013

Fim-de-semana à beira do lago

Passámos um fim-de-semana excelente, rodeados de amigos e de uma natureza belíssima. À beira de um lago, no meio de um enorme pinhal, numa zona que ainda não é conhecida dos turistas (só agora começa a ser conhecida pelos locais, pois durante várias décadas havia ali um centro da polícia política do comunismo e ninguém se atrevia a chegar-se sequer perto). As crianças adoraram, fartaram-se de brincar, correr, saltar, andar descalças e rebolar no chão. Ao fim do dia iam encardidas para o banho, mas muito felizes.
Na sexta apanhámos uma trovoada monumental à saída de Varsóvia, mas em contrapartida no sábado esteve um calor brutal. As peles mais claras (na nossa família o S. e a T.) ficaram logo queimadinhas. Passámos o dia numa quinta onde as crianças fizeram várias actividades e os pais relaxaram por aqui e por ali (os mais ousados foram fazer alguns desportos radicais). Eu ainda joguei um bocado de badmington, coisa que não fazia há anos. Ao fim do dia, de regresso à casa onde estávamos alojados, fizemos uma fogueira onde se assaram salsichas, cantou, conversou e passou um bom bocado.


O Domingo foi um dia mais relaxado, de passeio e descanso à beira do lago. Os mais novos e alguns pais (a propósito, ontem era o Dia do Pai na Polónia... e eu não sabia!! Ups...) aventuraram-se para dentro da água. Em suma, foi um fim-de-semana muitíssimo bem passado. Chegados a casa depois de uma viagem de várias horas (demorámos quase mais 2h para cá do que para lá... ainda estou para perceber como perdemos tanto tempo em paragens!!!), caímos todos na cama e dormimos, dormimos, dormimos... O M. foi o primeiro a acordar, por volta das 8h30 e a T. a última, já bem depois das 9!! Mas acordaram todos muito bem dispostos.

PS - Como não há bela sem senão, neste fim-de-semana calhou precisamente o solstício de Verão. Algo de que sempre gostei muito, por ser o dia maior do ano. No dia 21 tivemos um pôr-do-sol lindíssimo, com o sol enorme e o céu todo cor-de-rosa. Anoiteceu tardíssimo, o que também gosto muito. Só que, obviamente, nesta latitude, o sol nasce tão cedo que a pessoa fica toda baralhada. E o pior disso tudo é as casas não terem estores, cortinas escuras, o que quer que seja. Para não variar, o nosso quarto tinha apenas uns cortinados cor-de-laranja a fingir que tapavam a janela. Numa das noites tive o azar do M. acordar às 4h30 para beber leite. Bebeu e voltou a dormir, mas eu... quando acordo e vejo que já é completamente dia e o sol a brilhar com força na minha janela, por mais que queira já não consigo dormir a sério. Ainda consegui dormir um pouco até às 6h30, mas depois disso foi impossível. Devo ter algum bloqueio no cérebro que me diz que quando há sol, é para levantar. Claro que com nenhum dos polacos isto aconteceu, só mesmo comigo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Sol vs. Melgas

Mais um fim-de-semana na Mazúria (argh!!), no qual se avizinha muito calor, sol e... melgas!! Tendo em conta que as melgas polacas atacam mesmo durante o dia, a questão é: devo pôr às crianças protector solar ou anti-melga??... Acho que vamos decidir no local.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Omnisciência

Que mania que a T. tem de achar que eu sei tudo!! De cada vez que respondo a uma pergunta com "não sei", fica furiosa comigo porque acha que estou a aldrabar...

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Não discutam com um polaco

Não sei se já falei aqui, mas os polacos para discutir são uns chatos. Quando digo discutir, refiro-me a todo o tipo de troca de ideias, não apenas às formas mais violentas de o fazer. Eles têm uma ideia e são capazes de a transmitir durante uma hora, dizendo a mesma coisa de várias maneiras diferentes. Apercebi-me disto só há poucos anos e confesso que me facilitou a vida. Agora já sou capaz de cortar certas conversas a meio, quando percebo que a pessoa vai tentar dizer outra vez o mesmo, mas por outras palavras. Para eles isto não faz confusão nenhuma. Para mim, é horrível. O próprio S. já se ri disto e reconhece ser verdade. O que em Portugal se diz com meia dúzia de palavras, na Polónia precisa de meia dúzia de frases, ou se calhar meia dúzia de parágrafos. Comparável a isto, só as pessoas em Portugal a quem se pedem indicações no caminho que explicam como se vai dar ao sítio de dez maneiras diferentes (quer dizer, o caminho é o mesmo, as palavras é que vão mudando). Só me consigo lembrar disto:


terça-feira, 18 de junho de 2013

Futebol americano

Há dias, passaram por nós quatro rapazes vestidos como jogadores de futebol americano (sim, são rapazes, apesar de na foto parecerem raparigas). Foi a primeira vez que a T. viu algo do estilo. A sua curiosidade habitual deu logo sinal de vida.
- Pai, porque é que eles estão assim vestidos?
- Porque são jogadores de futebol americano.
- Não, pai! Porque são astronautas!!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

A Festa da Ciência

Depois de ver os nossos planos de sábado alterados, acabámos por ir à Festa da Ciência no Estádio Nacional, organizada pelo Centro de Ciência de Copérnico (um sítio que vale mesmo a pena visitar, mas isso fica para outro post). Deixámos o M. com a avó e seguimos rumo ao estádio. A T. aguentou-se muito bem, tendo em conta que andámos sei lá quantos quilómetros. À volta do estádio havia mais de cem barraquinhas onde diferentes instituições apresentavam coisas ligadas à ciência. Eram tantas e havia tanta gente que devemos ter visto talvez 10% ou menos do todo. Para além de que a maioria das coisas era mais para crianças a partir dos 10 anos. Mesmo assim, a T. ainda conseguiu participar em algumas coisas, incluíndo numa experiência de construção de um foguetão. O S. fez um jogo sobre gestão financeira e ganhou moedas de chocolate. No meio de milhares de pessoas ainda conseguimos encontrar uns amigos e, para maior coincidência, encontrámo-nos diante da barraquinha onde estava outro amigo nosso a fazer tijolos de barro para os miúdos construirem um mini-estádio.
Um robô que reage aos movimentos das mãos das pessoas. Se fazemos com a mão sinal para vir, ele vem; se fazemos sinal para parar, ele pára.

Conforme esta menina dava à bomba, o nível da água ia subindo.

O foguetão da T. Quando se aperta a garrafa, a ponta azul salta.

O interior de um carro com os materiais todos à mostra. No banco da frente de lado vê-se a bolsa com o airbag.

sábado, 15 de junho de 2013

Ó pra nós aqui! :)

No blog da Rita Ferro Alvim. :)

Que planos para hoje?

Hoje era para ser a festa de anos da T., mas como o M. ficou doente tivemos de cancelar. Como alternativa, se calhar optamos por uma das festas ao ar livre que se fazem nesta época do ano, para a T. se divertir um bocado. Está um dia lindo de sol, pode ser que o M. não fique mal com uma saida (ele coitado já está fartinho de estar fechado em casa). É que de facto na Polónia os dias de bom tempo são mesmo para aproveitar.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Caraças de carraças!

Há coisa de mês e meio fomos passar umas mini-férias à região da Vármia. Também chamada Região dos Lagos, a Vármia-Mazúria é uma das minhas regiões preferidas da Polónia. É absolutamente lindíssima! Fomos num dia de grande calor e apanhámos imenso frio enquanto lá estivemos (com as malas feitas com roupa ligeira... enfim... mãe portuguesa nunca aprende!!). Acabámos por passear menos do que queríamos, mas ficámos num hotel sobre um lago, então paisagem tínhamos.
Esta região, para além de lagos e florestas enormes tem algo muito característico deste tipo de ambiente: melgas e... carraças! Há dias alguém me contou que houve nessa região uma acção de "des-melguização" das florestas para atrair turistas. Não sei até que ponto isso é possível, mas enfim. Mas com as carraças não é possível fazer isso. Do que percebi, os polacos estão muito habituados às carraças, quer dizer, mais do que os portugueses. No início de casados, quando íamos passear a alguma floresta, o S. regressava a casa e pedia-me para ver se não tinha carraças em alguma parte do corpo. Sempre achei isso um exagero e nunca liguei muito. Mas a verdade é que nunca vi nenhuma. Até ao dia. E esse dia foi horrível.
Tínhamos regressado das nossas mini-férias, as crianças já estavam na cama e eu tinha acabado de me sentar no sofá a ler um livro. O S. vem ter comigo, com a mão na barriga, e diz:
- Estou a sentir aqui uma coisa estranha. Vê lá o que é isto.
Aproximei-me e vi uma coisinha pequena escura. Pareceu-me uma crosta de uma ferida pequena que estava a sair. Ele, alarmado, diz:
- Vê lá se não é uma carraça...
- Não! Claro que não! É uma crosta. Espera aí, já a tiro...
E tirei. De repente, olho para o que tenho entre os dedos e vejo que tem umas patinhas minúsculas e que se está a mexer.
- Aaaaaaaaaaaaaaaa!!!!!
Apanhei um susto daqueles e larguei logo o que tinha nas mãos. Imediatamente olhámos para a barriga do S., onde ela estava, mas não parecia ter nada de estranho. De qualquer maneira, lá foi o coitado para as urgências do hospital ver se não tinha nada. E só depois me lembrei que tinha deixado cair a carraça... E onde está? Pois é... procurei por toda a parte e... nada! Pus a roupa toda para lavar, aspirei o chão, no dia seguinte o S. voltou a aspirar a sala toda, sofás, etc. Esperemos que ela tenha ido embora... Felizmente a picadela foi mínima, pois consegui arrancá-la logo no momento certo (e da maneira adequada, sem o saber) e não trouxe consequências. Agora o stress que tive naqueles dias, a pensar que ela andaria por aqui por casa, à caça de uma próxima vítima...!!!
Entretanto informei-me e há imensos produtos para as carraças, desde kits especiais para as tirar do corpo, até coisas para aplicar nas picadas, etc. Nós agora já temos uma coisa para as tirar do corpo.
Nunca mais vi nenhuma, apesar de ter a sensação que um dia no banho do M. houve uma que foi pelo cano abaixo.
Conclusão: Gosto muito da Vármia-Mazúria, mas... acho que agora tenho outra região de que gosto mais...

quarta-feira, 12 de junho de 2013

Tu não falas essa língua!

Para a T. não faz confusão nenhuma haver umas pessoas que falam português e outras que falam polaco. Do mesmo modo não faz confusão os pais falarem tanto numa, como noutra língua, ou até nas duas ao mesmo tempo. O que faz confusão é ouvir um português falar polaco, ou um polaco falar português. Nessas situações reage sempre com um olhar incrédulo. E depois ri-se muito, farta-se de gozar. Com ela isto já aconteceu várias vezes, já não é surpresa. Mas com o M., no seu ano e meio de vida, ainda não tinha acontecido. Até ontem. Ontem, a minha mãe disse algo em polaco e ele olhou para ela muito surpreendido, como se achasse estranhíssimo. Percebeu que havia alguma coisa que não batia certo. Ou seja, apesar de ainda praticamente não falar, ele já percebe a diferença entre as línguas bem mais do que nos parece.

terça-feira, 11 de junho de 2013

Veturilo

Uma das grandes invenções do último ano foi o sistema municipal de aluguer de bicicletas de Varsóvia, chamado Veturilo. Veturilo é uma palavra em esperanto (língua inventada por um polaco) e que significa meio de transporte. Esta ideia começou no Verão do ano passado e basicamente consiste em dezenas de pontos de aluguer de bicicletas em toda a cidade, sendo que podemos alugar num lado e deixar noutro. O Veturilo está integrado na rede de transportes públicos da cidade e é considerado isso mesmo: um transporte público. Para andar, temos de nos registar na página da internet e pagar uma caução. Depois, se andarmos até 20 minutos, não pagamos nada. Se andarmos entre 20min e 1h pagamos 1zl e a partir daí vai aumentando a pouco e pouco. Ah, e é tudo self-service.
(Mapa dos pontos de bicicletas no centro de Varsóvia)

No ano passado, quando começou, havia ainda poucos pontos de bicicletas, mas agora, desde que começou a época (de Março a Novembro) apareceram já imensos. Normalmente estão junto às estações de metro, universidades, zonas comerciais e em todos os locais onde costuma haver aglomerados de pessoas (piscinas, pavilhões, zonas de escritórios, etc.). Para além disso, há também no meio de bairros habitacionais normais.

Pessoalmente acho a ideia giríssima. Se tivessem cadeira para bebés, de certeza que já tinha usado. Quando ando na rua farto-me de ver pessoas nessas bicicletas, sobretudo estudantes. É muito prático, faz-nos poupar tempo de deslocação e é bastante agradável. Só é chato depender muito do tempo, o que na Polónia é arriscado. Este ano, por exemplo, o Inverno foi prolongado, por isso teve de abrir mais tarde. Agora, nas últimas semanas, temos trovoada atrás de trovoada, com cargas de água monumentais, o que também inviabiliza a utilização destas bicicletas. De qualquer maneira, quando está bom tempo, vale a pena aproveitar.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Já passaram 5!...

Cinco aninhos desde que a minha querida filha nasceu, num dia de grande calor, aqui em Varsóvia. Foi o início de muitas aventuras. Graças a ela conheci realidades da Polónia que desconhecia - e ainda hoje continuo a descobrir muitas coisas novas.
Ontem já celebrámos com a família, hoje será na escola e com a família nuclear e em breve será com os amigos mais próximos. A propósito disto, tive imensas dores de cabeça sobre como organizar a festa de anos dela com os amigos.
Uma das coisas que os comunistas fizeram na Polónia foi alterar drasticamente o sistema habitacional. Davam casas a toda a gente, mas que casas? Construíram blocos enormes, feíssimos, com dezenas de andares  (o da avó do S. tem 17 andares) e centenas de apartamentos. Só que, para caberem muitas pessoas, faziam os apartamentos minúsculos. As casas antigas que sobreviveram à IIª Guerra Mundial foram fragmentadas em vários pequenos apartamentos. Ou seja, um apartamento antigo que tinha quase 200m2 era repartido em quatro casas de 50m2, ou mais até. Uma das primeiras casas onde viveram os meus sogros era precisamente uma destas, em que havia quartos com cozinhas improvisadas, casas-de-banho partilhadas, etc. O pior disto tudo é que o mercado imobiliário não consegue alterar-se de um dia para o outro e hoje em dia na mesma constroem-se imensas casas com 20m2, 30m2, 40m2, 50m2.
Li há dias que os comunistas fizeram isto como política anti-família. Para quem vive em casas pequenas, o aparecimento de filhos torna-se obviamente num problema logístico. E a ideia era essa: desincentivar as famílias numerosas. Duas décadas depois da queda do comunismo, continua-se a sentir este problema. Conheço várias famílias que vivem em casas com 50m2, com dois ou três filhos, e é um horror. Querem mudar para algo maior, mas não é fácil, porque os preços são proporcionais. Nós temos "sorte" por ter 70m2 e termos um quarto só para nós (há muitos casais que optam por dormir na sala e deixar os quartos para os filhos). Mas sentimos já falta de mais um quarto para trabalhar e outro para cada filho ter o seu.
E o que tem isto a ver com os anos da T.? Tem que eu gostaria de fazer uma festa de anos grande cá em casa, mas... não há espaço!! E como eu sentem-se muitas famílias. A tendência é alugar espaços e fazer festas organizadas, mas são caríssimas e eu gostava tanto de fazer como na minha infância: em casa, com bolos feitos por nós, decorações também nossas e a tranquilidade do lar. Ainda pensei fazer um piquenique, mas a perspectiva de andar o tempo todo a correr atrás do M. não foi muito agradável. Por isso, vamos na mesma fazer em casa, mas com uma lista de convidados reduzida. Paciência, quando arranjarmos uma casa maior talvez consigamos convidar mais gente. Mas para já, isso não é o mais importante. Por agora vou-me dedicar a desfrutar o aniversário da T.!

domingo, 9 de junho de 2013

Relação amor-ódio com o sol

Depois do austero Inverno polaco, o anseio pela chegada dos dias quentes é grande. Este ano isso foi particularmente notório: até os polacos se queixavam que nunca mais chegava a Primavera! Para mim, o facto de já poder sair de casa sem sobretudo ou kispo já é muito bom. Mas os dias grande... os dias grandes têm o seu charme. São os dias mais agradáveis do ano. Sol, sol e mais sol. Para tirar a barriga de misérias. Adoro estes dias, mas ao mesmo dia detesto-os. Parece incrível, mas se os dia pudessem ser um pouquinho mais curtos seria melhor. Passo a explicar.

Nesta altura do ano, às 4 da manhã já é dia. Dia com luz forte do sol a entrar pela janela. Não haveria problema nenhum se os polacos tivessem o hábito de pôr estores ou portadas de madeira nas janelas. Só que infelizmente não têm. Todos os anos passo por uma crise nestes dias em que faço grandes planos para mudar as cortinas dos quartos e pôr umas que tapem completamente o sol. No ano passado tirei medidas das janelas e tudo. Infelizmente as ideias nunca passam disso mesmo. Mas este ano vai ser diferente! Uma amiga nossa arquitecta já esteve a ver as janelas (porque elas têm uma particularidade que não deixa pôr certo tipo de persianas) e arranjou-nos uma solução! Só falta encomendar, aplicar e... dormir!!! Sim, porque hoje por exemplo estou a pé desde as 6 e não foi por causa de nenhuma criança chorar...

Entretanto, para as crianças os dias grandes também têm uma certa piada. Passam as tardes a brincar nos parques infantis, a andar de bicicleta, trotinete, patins, seja lá o que for, até ficar tarde. Não digo até ficar escuro, porque isso é outro problema. Se no Inverno quando a T. saía do infantário pouco depois das 15 já era quase noite, agora a dificuldade é convencê-la a vir para casa, a fazer o ritual de fim de dia (banho-jantar-cama), porque para ela ainda não são horas de ir para a cama. "Mas ainda é dia!", é a resposta que mais tenho ouvido nas últimas semanas. O que vale é que de noite (ou devo dizer de dia também, porque de madrugada é dia!) eles dormem bem e não acordam a achar que já são horas.

sábado, 8 de junho de 2013

Uma criança bilingue

Se há coisa que é difícil para nós de perceber é a forma como funciona o cérebro de uma criança bilingue. Uma amiga nossa, bilingue, fez a tese de mestrado sobre o bilinguismo e deu-nos uma cópia, que li com interesse. Em conversa explicou-me que eles não pensam com palavras, mas sim com imagens. É algo difícil de explicar, mas para ela - sendo bilingue - não fazia confusão nenhuma.
Aquilo que noto como sendo o principal problema (abstraíndo-nos completamente da questão da nacionalidade e a divisão do coração que daí advem) é a incompreensão. Esta incompreensão é proveniente do facto de a criança não se saber explicar tão bem em determinada língua, mesmo sendo língua materna, como qualquer outra criança da sua idade. Acontece várias vezes fazer alguma coisa e, como não consegue explicar-se a tempo ou dizer logo o que quer, ser mal interpretada. Isto, como é óbvio, provoca choro, gritos e grandes confusões. Felizmente estamos cada vez mais atentos a isto e, no caso da T., percebemos que temos de lhe dar tempo para falar e explicar-se. Muitas vezes começa a dizer algo numa língua e a meio muda para a outra, porque não sabe como se diz determinada coisa. Isto é a parte chata do bilinguismo.
A parte boa é ver a facilidade que eles têm para aprender línguas. No infantário, a T. adora inglês e já diz imensas coisas. Mas para além disso, ela própria agora já brinca às traduções. Por exemplo, aqui há uns tempos andava sempre a cantar uma música de um filme que viu em português. De repente, um dia começou a cantar a mesma música, mas em polaco. Perguntei-lhe se tinha aprendido com algum amigo ou se tinha visto o filme em polaco, mas ela disse que não. Simplesmente inventou. E inventou bem! Desde essa altura, tem feito isso com várias músicas, por brincadeira. A facilidade com que ela o faz é realmente perturbadora.
E o M., com 18 meses, já é bilingue? Claro, já percebe que uns falam polaco e outros português. Como está o tempo todo comigo, por agora percebe mais português do que polaco. O que achei piada é que ele diz sempre adeus em polaco (papa) quando se despede de alguém, mas ontem, numa loja, quando me despedi da vendedora, virou-se para ela e disse "adeus", enquanto acenava. Foi a primeira de muitas baralhações linguísticas que ele ainda vai ter.

Mais uma recuperação do blog

Um ano e meio depois decidi ressuscitar o blog. Vamos voltar não só a mais histórias sobre a Polónia, mas também sobre o dia-a-dia de uma família bilingue. Há muito que ficou por contar durante este grande intervalo. Com o passar do tempo vão-se descobrindo coisas que escapam ao olhar dos turistas, da Polónia profunda, da cultura e mentalidade dos polacos. Para além disso, quanto mais os filhos crescem, vamos estando mais envolvidos no mundo bilingue. Educar filhos bilingues e com dupla nacionalidade não é o mesmo que educar crianças que cresceram só com uma língua e um país. Há muitos desafios, crises e sobretudo incompreensões. Esperemos que este regresso seja mais prolongado. :)